A carta mais romântica de sempre
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"Our world is an english village."
Clube de Leitura Jane Austen
Não se trata de uma obra-prima e, muito menos, chamará a atenção de muitas pessoas. Possivelmente é e será visto como mais um filme cor-de-rosa. Reconheço que não é um filme artisticamente fascinante e até poderia ser melhor em muitos aspectos. Porém, para mim, é um filme muito especial.
A primeira vez que assisti ao "Clube de Leitura Jane Austen" eu ainda não tinha lido a "Abadia de Northanger" nem "Mansfield Park" [ como eu já referi algumas vezes estes dois livros foram muito difíceis de encontrar o que derivou numa tardia leitura ] o que fez com que eu não apreendesse totalmente a dimensão do significados de muitas falas do filme. Mas, desde o primeiro momento, eu senti um grande amor por ele. Depois de ter lido a obra completa, o filme começou a fazer maior sentido. Revejo-o várias vezes.
Resumidamente - para quem não assistiu - o filme aborda a história de seis pessoas que se uniram para fazer a leitura dos seis livros de Jane Austen. Cada um escolheu um livro específico para liderar a discussão. É interessante a forma como a personalidade de cada um mostra-se ser semelhante à heroína/herói de cada livro de Jane Austen. Em inúmeras ocasiões determinados episódios e problemas da vida dos personagens assemelham-se às questões de fundo relatadas nos livros da nossa querida escritora. Eu adoro este aspecto do filme. Esta característica demonstra e justifica bem o facto de Jane Austen ser tão popular nos dias de hoje: porque identificamo-nos com as questões levantadas por ela.
Todos os personagens são fascinantes, mas realmente eu tenho de dizer que tenho uma grande simpatia por Griggs e por Prudie. Griggs (Hugh Dancy) é único homem do Clube e ficou encarregue de ser o anfitrião da discussão do livro "Abadia de Northanger". O interessante nele é reconhecermos nele um misto de Catherine e de Mr. Tilney. Ele tem uma ingenuidade e uma pureza que nos leva a lembrar de Catherine; mas, por outro lado, tem um senso de humor aguçado como o de Mr. Tilney. Parece-me, contudo, que prevalece mais o "lado Catherine": ingenuidade, imaginação, criatividade, fascínio pelo fantástico. Já Prudie (Emily Blunt) revela-se um ser em angústia. Alguém que está à beira do abismo e não sabe que caminho tomar. Confesso-me fraquejar diante de seres em angústia. Não que o sofrimento seja bom e admirável, mas a capacidade de resistência dentro de angústia conquista-me desde o primeiro momento.
Há momentos divertidíssimos e há momentos em que ouvimos frases absolutamente perfeitas. Bernadette é, sem dúvida, a protagonista das melhores frases. Nunca me esqueci quando ela setencia "Our world is an english village" que era como quem dizia "que mundo tão pequeno". Estamos misteriosamente interligados uns aos outros. Penso em nós (integrantes deste blogue, leitores/as, amigas do Clube de Leitura Jane Austen, futuras integrantes do Grupo de Leitura aqui do blogue) amantes e apreciadores de Jane Austen e no elo que nos liga. Há este vácuo do tempo, da distância, do anonimato, da vida privada de cada um que distancia-nos; mas, há este amor por Jane Austen que nos aproxima. O mês passado, de partilha das nossas preferências da obra e filmes inspirados em Jane Austen é prova disto. Isto é uma aliança que existe entre nós e nem nos damos conta disso. Esta teoria pode ser algo romântico de minha parte. Certo é que acredito nisto. Esta frase tem uma forma metafórica. O nosso mundo é assim: parece tão grande e tão distante mas é, ao mesmo tempo, da dimensão do nosso pequeno universo. Podemos estar próximos ou distantes, a variante é a dimensão do nosso olhar e a vontade de querermos enxergar e partilhar.