“You've got mail” é um clássico do gênero cinematográfico das comédias românticas. Neste filme pode-se encontrar tudo que uma comédia romântica de boa qualidade pede: química entre o casal de protagonistas, embate e discussões entre o casal apaixonado, encontros e desencontros, um contexto bem formulado para o desenrolar da história de amor, amigos simpáticos dos protagonistas com quem estes desabafam ao longo do enredo e é claro, eles só se beijam no final! Este filme além de nos brindar com todas estas características tão tocantes também tem seu roteiro baseado em “Orgulho e Preconceito”. Pronto! Receita perfeita para nos apaixonarmos pela história!
Como já foi muito bem apresentado, este filme retrata um romance que nasce e se desenvolve a partir da troca de mensagens via e-mails pelos protagonistas.
Joe Fox (brilhantemente interpretado por Tom Hanks), o nosso herói, confidencia a seu simpático amigo Kevin:
"Kevin, this is possibly the most adorable creature I've ever been in contact with, and if she turns out to be as good looking as a mailbox... I would be crazy enough to turn my life upside down and marry her."
Joe Fox não imagina que a vida dele poderia mudar radicalmente através de uma simples troca de mensagens. Ele não fazia ideia que diante de seus olhos o sinal de email recebido era o toque que o destino fazia para que ele pudesse encontrar a sua alma gêmea. Ele afirma para o seu colega de trabalho, Kevin, de que seria capaz de virar a sua vida do avesso e casar com a mulher com quem ele se correspondia. Através da troca de mensagens, ele enxergava alguém de rara beleza. Alguém que ele não conseguia ver na sua vida quotidiana. Alguém que o entende e que o completa. Cada mensagem é uma confirmação deste veredicto. A ansiedade vive à distância de um clique e da leitura de cada email.
O mesmo acontece para Kathleen Kelly (meigamente interpretada por Meg Ryan), nossa heroína, ela se percebe envolvida completamente por alguém que ela não conhece, mas que sintetiza tudo que ela deseja em um homem. Assistindo ao filme, nos observamos ansiosos e curiosos em ler as mensagens trocadas pelo casal e nos divertimos com os embates vividos pelos personagens quando se encontram pessoalmente e em como esta condição muda quando eles se falam através do chat.
O filme é um exemplo de como podemos nos envolver “virtualmente” com alguém e estabelecer uma densa relação que só se concretiza por meio de mensagens virtuais. Mas destaca que quando a relação se torna real, concreta, este vínculo pode ser mais prazeroso e intenso.
A carta de Mr. Collins para Mr. Bennet é muito bem escrita e revela características de sua personalidade que não passam despercebidas, principalmente, aos olhos do próprio Mr. Bennet e de Elizabeth. A carta é lida pelo Mr. Bennet para toda a sua família, de manhã, durante a primeira refeição do dia. Ele solicita a Mrs. Bennet que repare um belo jantar, pois terão convidados. Ela se anima toda, acreditando se tratar de Mr. Bingley. Porém, logo Mr. Bennet a corrigi e com seu peculiar toque de ironia comunica a família a vinda deste primo, que será o herdeiro da única propriedade da família quando ele não mais existir. Mrs. Bennet demonstra indignação com a possibilidade de receber em sua casa o homem que pode deixá-las na miséria. Mr. Bennet destaca a tentativa do primo em se aproximar da família e pede a atenção de todas para a leitura da carta.
A carta é cheia de pompa e cuidados, apresenta argumentos bem pensados que tem a finalidade de sensibilizar o receptor da mensagem. Mr. Collins justifica sua demora em procurar a família, esclarecendo que após a morte do pai preferiu manter distância para preservar a memória deste e respeitar suas vontades. Mas, ele repensa o comportamento de seu pai em não se relacionar bem com Mr. Bennet e decide procurá-los a fim de preencher tal abismo. Afinal, ele foi nomeado pela Baronesa Lady Catherine de Bourgh como reitor da paróquia, cuja propriedade é desta ilustre senhora. Esta informação é escrita em meio a vários adjetivos e promessas de ser um clérigo impecável para esta bondosa senhora. Além disso, Mr. Collins ressalta que como clérigo ele deve zelar pela paz de todas as famílias e por estas razões quer se aproximar de Mr. Bennet e sua família. Mr. Collins tenta persuadir Mr. Bennet em lhe receber, argumentando que não pode deixar de sentir certo pesar por, involuntariamente, vir a prejudicar suas primas, pede desculpas por tal inconveniência e garante compensá-las na medida do possível. Em seguida, se convida para ficar como hospede da família por uma semana.
Após o término da carta, todos se expressam e relatam a impressão que tiveram do tal primo. Neste momento, Jane Austen apresenta aos leitores um panorama de como cada um entende esta carta e as possíveis repercussões da visita de Mr. Collins a família Bennet. É interessante acompanhar o raciocínio de cada membro da família e conhecer um pouco mais da personalidade de cada um. Mr. Bennet acerta em cheio e nos apresenta, antecipadamente, como é este personagem tão engraçado, ele declara: “A sua carta denuncia um misto de subserviência e auto-importância, que promete muito”. E como a promessa é cumprida com maestria por Jane Austen ao nos brindar com Mr. Collins, um sujeito presunçoso, exímio galanteador e “puxa-saco”, impertinente, convencido e muito, muito engraçado!
Esta carta dá início a uma série de acontecimentos importantes para a história de “Orgulho e Preconceito”, tal como a vergonha que Lizzy sente de sua família no baile na casa de Mr. Bingley, a recusa de Lizzy em se casar com Mr. Collins, o casamento deste com Charlotte Lucas e assim por diante.
É muito interessante se aperceber de como uma carta revela muito da personalidade de seu escritor. Neste caso, pode-se considerar que esta carta foi usada por Jane Austen como um aperitivo do que seria a personalidade tão peculiar e comum na época de Mr. Collins.
Se Jane Austen podia ter criado uma cena em que Frank conta tudo a Mrs Weston ou a Emma, então porque razão não o fez? Foi esta a pergunta que fiz quando me foi dado como trabalho falar sobre esta carta. Pensando noutras cartas do universo Austen quase todas elas são justificáveis, talvez a de Willoughby devesse ter dito aquilo que diz na sua carta a Marianne de viva voz, talvez tivesse sido menos cobarde. Ah! É isso!! Willoughby é feito da mesma massa que Frank Churchill e ambos partilham várias coisas e uma delas é serem cobardes e talvez por isso as cartas que escrevem existam para reforçar a verdadeira natureza deles. Se bem que Frank, ao contrário de Willoughby tem uma índole boa ou pelo menos acredito que sim.
Lendo e relendo a sua carta tenho para mim que ele não merece a bondade e o perdão do pai, de Mrs Weston e de todos em geral. O comportamento dele é absolutamente injustificável! Até percebo o compromisso secreto com a Miss Fairfaix, por causa das circunstâncias mas a forma descarada e sem rodeios com que faz a corte a Emma, não têm perdão!! E se Emma se apaixonasse por ele??? Frank iria magoar alguém sem necessidade nenhuma e o estrago que faria seria irremediável. Emma teria o coração destroçado à semelhança do que acontece com Marianne.
Mas Frank não pensa assim acha Emma incapaz de retribuir tal sentimento e até julga que ela percebe o que se passa entre ele e Miss Fairfaix. Logo Emma que apesar de querer casar todos à sua volta é incapaz de ver que Elton gosta dela, que Harriett se interessa pelo Mr Knighltey e que este está apaixonado por ela. Não é de todo a pessoa mais perspicaz para ver um sentimento secreto.
Na minha opinião ele acredita nisso porque lhe convém.
De resto, a carta acaba por revelar motivos para alguns acontecimentos que achamos normais ou inocentes: a má disposição com que Frank chega a Abbey Mill, o silencio constante de Jane Fairfaix e o facto de ela ter aceite o cargo de preceptora de repente.
Se Frank Churchill se redime com a carta que escreve? Sim até porque todos o perdoam e acabam por compreendê-lo. Até o Mr. Knightley parece-me no fim mais condescendente com ele, embora julgo que não tenha ficado a morrer de amores por ele.
A Carta De Frank Churchill é na minha opinião uma carta de pedido de perdão e um modo de ao justificar o seu comportamento manter a boa opinião que as pessoas faziam de si.
Frank Churchill não é uma pessoa má, contudo não tem a superioridade de caráter de Jane Fairfax, assim durantea maior parte do tempo que decorre a acção do romance Frank é uma pessoa sedutora, que usa a boa opinião que as pessoas para se esconder na sua singularidade e genuinidade. Este torna-se amigo de Emma, e apesar destes laçoes fraternos que foram estabelecidos, abusa da proximidade com Emma cortejando-a apenas para que se mantenha escondido o seu romance com Jane. Emma, não fica indiferente a Frank, mas também não se apaixona. Nisto tudo apenas o seu orgulho se eleva para a seguir ser diminuido, sentindo até um pouco de vergonha por toda a antipatia que sentia por Jane. Através desta carta entende-se que tal como Emma sentia uma pontinha de inveja e ciúmes a miss Jane Farifax, pela admiração (exposta de forma exagerada) por Mr Knightley, esta sentia de Emma, pela proximidade com Frank.
Frank usa a carta para explicar que a amizade que sentia por Emma e a sua aparente indiferença e bom humor às suas respostas justificam o seu comportamento.
Esta carta serve não só como justificativo do comportamento de Frank, mas também nos dá a conhecer Jane, Um personagem reservada que ao longo de toda a História conhecemos muito mais através dos olhos e ouvidos dos outros personagens que dela mesma. Quem é a verdadeira Jane? Talvez seja esta que nos é apresentada pelos olhos do amado Frank.
Uma união diferente em fortuna entre Frank e Jane é na realidade mais desigual entre a nobreza de carácter de Jane e Frank. As censuras que poderiam ser evitadas com uma reserva natural que servia no fundo de protecção do seu caráter aconteceram pelo comportamento exibicionista de Frank. Jane não sabia mesmo que o piano que lhe foi oferecido o havida sido por Frank, sendo esta revelação feita aos leitores na mesma carta.
“Kathleen Kelly: [in an email to Joe Fox] The odd thing about this form of communication is that you're more likely to talk about nothing than something. But I just want to say that all this nothing has meant more to me than so many somethings. “
You’ve got mail é um filme de 1998. Insere-se na última década do século XX, quando a utilização da internet e do correio electrónico começou a ser uma ferramenta do utilizador comum. Ainda não era um instrumento de massas mas já era bastante conhecido e utilizado.
Entendo perfeitamente o fascínio de Joe Fox e Kathleen Kelly. Nesta altura, a questão do chat era uma fonte de novos horizontes. Lembro-me de, em 1998, estar na universidade e ser totalmente viciada em chats. Havia páginas na Web de chats, canais de conversação em tempo real, em que podíamos conversar com pessoas de vários países. Isto era fascinante. Cheguei a conhecer algumas pessoas e a me corresponder com elas. Claro que sempre se coloca a questão da veracidade. Contudo, parece-me que naquele início de utilização da internet tudo era ainda muito inocente. Depois, surgiram os chats temáticos e de seguida a moda do msn. Hoje em dia, as redes sociais comandam: myspace, facebook, twitter, etc.
Enviar uma mensagem tem a ver com partilha. Pequenos gestos do quotidianos ditos de maneira informal talvez fale mais sobre a nossa visão da vida e do mundo do que um extenso discurso. É nisto que a troca de mensagens em You’ve got mail ressalta. A realidade do desuso das cartas escritas é outras das mensagens que o filme expõe. Podemos fazer uma comparação e dizer que assim como as grandes livrarias vieram causar a queda das pequenas livrarias (Fox books-The shop around the corner) também a internet veio causar uma queda na escrita e envio de cartas. Acho que não é uma comparação descabida. Mas, de igual forma, podemos afirmar que apesar do instrumento físico de envio de mensagens ter mudado, a necessidade de partilha não deixou de existir. Pelo contrário, é cada mais reforçada e fazemo-la de diversas formas.
Aqui, neste momento, a meia luz na minha sala em casa, estou a partilhar convosco estes pensamentos, estes “pequenos nadas” e com isto revelo um pouco de mim, da minha alma. Escrever num blogue tem esta dimensão: um conjunto de “pequenos nadas” que podem significar um todo consistente. Toda a vez que eu vou ler um blogue ou um email penso: o que ele me dirá hoje?
What will NY152 say today, I wonder. I turn on my computer. I wait impatiently as it connects. I go online, and my breath catches in my chest until I hear three little words: You've got mail. I hear nothing. Not even a sound on the streets of New York, just the beating of my own heart. I have mail. From you.
Joe Fox: Oh right, yeah, a snap to find the one single person in the world who fills your heart with joy.
Nelson Fox: Well, don't be ridiculous. Have I ever been with anyone who fit that description? Have you?
[ You’ve got mail ]
Há muitos filmes que são adaptações, alguns são inspirados e outros fazem alguma referência à obra literária de Jane Austen. You’ve got mail, do meu ponto de vista, não faz apenas referência, é inspirado em Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Em Joe Fox/Tom Hanks e Kathleen Kelly/Meg Ryan podemos identificar Mr. Darcy e Elizabeth Bennet. Mas esta identificação não é imediata. Não se trata daqueles filmes que pensamos “Ok, a tua base é O&P” e andamos à caça de todos os personagens do livro. Não. Este filme foca a questão subjacente que Jane Austen sempre quis destacar em O&P: o erro que caímos quando nos fiamos nas primeiras impressões. Falamos de duas pessoas que se conhecem antes de se conhecerem de facto. Joe e Kathleen correspondem-se por emails, sem se conhecerem, e fazem-no sem se identificarem com os seus verdadeiros nomes. Apenas identificam-se através de um nickname. Falam sobre as coisas aparentemente pequenas do quotidiano, mas sem revelarem dados concretos de suas vidas privadas. Acabam por se conhecer em concreto, contudo, sem saberem que se correspondem. A primeira impressão é horrível. Detestam-se, espicaçam-se e evitam-se. A antipatia é latente. Ele, porque a vê como um obstáculo a ser ultrapassado profissionalmente; ela, porque o vê como a causa do infortúnio do seu negócio. Há todo este pano de fundo do sector livreiro: ele, um grande empresário e dono de uma cadeia de livrarias de grande alcance; ela, dona de uma pequena livraria de literatura infantil. O facto de serem concorrentes no ramo das livrarias é o tempero que dá sabor a esta história. Há este duelo de vontades, de olhares e de palavras. Um “duelo” bem ao estilo “Darcy/Elizabeth” que fascina a cada momento do filme.
Joe Fox é quem primeiro descobre a verdade sobre a identidade de ambos enquanto correspondentes. Ele descobre e ela ignora a verdade. A cena em que eles vão se encontrar num café para se conhecerem faz-me sempre lembrar a cena em que Darcy declara-se pela primeira vez a Elizabeth. Não pela semelhança de acções mas por tratar-se do momento de viragem da história. Ele, tal como Darcy, quer demonstrar a Kathleen que a primeira impressão que ela tem dele não é a verdadeira. Ele quer conquistá-la. Ele tenta, sem se revelar, fazer com que ela goste tanto dele – Joe Fox – como do “NY152” (seu nickname). Ao baixar as defesas também Kathleen mostra-se como ela realmente é, tal e qual a sua “Shopgirl”.
A dinâmica entre eles faz lembrar aquela máxima que defende que odiamos na mesma intensidade em que amamos. Há intensidade, sobretudo. A verdade é que se eu ouvisse Joe Fox a dizer “You must allow me to tell you how ardently I admire and love you” para a Kathleen Kelly, não acharia estranho.
Whatever you do, just don't listen to anything I say.
Joe Fox, You’ve got mail
Este filme é dirigido por Nora Ephron. Na sua filmografia podemos reconhecer vários filmes de sucesso. Aliás, é ela responsável por umas das comédias românticas de que eu mais gosto: When Harry met Sally. Dela também é o excelente “Julie & Julia”.
O argumento gira em torno de duas vertentes. Uma delas retrata o fenómeno do reforço e do crescimento das grandes livrarias e o consequente retrocesso/queda das pequenas livrarias de estilo comércio tradicional. Outra vertente é a generalização do uso da internet ao nível de práticas sociais: trocas de mensagens por email e por chat com intuito de estabelecer convívio.
A grande livraria é a Fox Books que quer monopolizar o mercado livreiro. Joe Fox é o herdeiro deste “império” e está empenhado na abertura da mais recente loja no West Side em Nova Iorque. Indiferente a este processo encontra-se “The shop around the corner” de Kathleen Kelly, uma pequena e tradicional livraria especializada em literatura infantil. A ascenção de uma livraria levará a queda da outra. Ambos não se conhecem pessoalmente mas correspondem-se por email, sem saber a identidade um do outro. Tratam-se por “nicknames” e não falam de coisas e dados pessoais. Ele, Joe Fox, é NY152. Ela, Katlheen Kelly, é Shopgirl. Nesta troca de emails revelam pensamentos, trivialidades, pequenos episódios e sentimentos. Sem o saberem, revelam-se. Quando conhecem-se pessoalmente, detestam-se. Reconhecem-se como rivais e concorrentes no seu ramo de negócio mas ignoram que se correspondem por emails. Este é o motor do filme, a partir daqui algumas peripécias e momentos divertidos acontecem.
Pessoalmente, eu adoro este filme. Eu sou uma grande fã de Meg Ryan, do Tom Hanks, de Greg Kinnear, de Jane Austen, de Orgulho e Preconceito, de internet, de livros, de livrarias e de café. Este filme tem tudo isto. Parece estranho… Mas é um filme que consegue reunir todos estes elementos de uma forma inteligente e encantadora. O casal Tom Hanks/Meg Ryan estabelecem uma excelente química e isto é muito importante num filme deste género. Posso afirmar que este está no meu top 3 de filmes inspirados em Jane Austen.
Se alguém não o assitiu, não perca tempo. É uma comédia romântica como poucas: bons actores, boa banda sonora e um argumento encantador.