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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

[reticências do processo de eleição de um top]

[estou aqui a eleger os favoritos dentro da temática das adaptações e confesso-vos: está a ser ainda mais difícil do que com os livros... a minha lista está longa e acho - temo - que não consiga abdicar de, no mínimo, cinco finalistas para cada categoria... há tantos momentos lindos, tantas interpretações maravilhosas, tantos cenários de tirar o fôlego... não sei, não sei... ]

 

Top Jane Austen - quinta parte

Não tive qualquer problema em eleger a minha obra favorita. É e, penso, sempre será “Persuasão”. Tenho consciência de que talvez não seja uma obra totalmente finalizada e até desenvolvida. Talvez Jane Austen viesse a alterá-la. Não sei. Não é uma obra do estilo de “O&P” ou de “Emma” em que vemos personagens e diálogos destrinçados ao pormenor. Contudo, é intenso, denso e sofrido. É verdade que esta obra é o relato de um amor constante e que sobreviveu às circunstâncias adversas, mas é também a história de alguém que procura entender o seu lugar no mundo. Dois sobreviventes. Dois náufragos. Duas pessoas separadas pelas convenções e pela exigência social.

Eu sofro com Anne Elliot. Percebo os seus gestos. Imagino-lhe o olhar perdido. Entendo o seu coração apagado no meio de uma família tão fria e agreste.  Quantas vezes somos estrangeiros junto daqueles que são sangue do nosso sangue? Quantas vezes o lar é uma terra estranha? “Persuasão” foca com muita incisão esta perspectiva.

Tomo a liberdade de dizer que a vida de Anne só foi possível porque ela sempre procurou ter notícias de Wentworth e isto era o seu único alento. O verdadeiro lar de Anne Elliot somente existiria quando e onde ele estivesse. Wentworth. Nome que soprava-lhe entre os lábios com uma brisa. Um sussurro. Uma brisa com sabor a maresia, a ventos e a horizontes sem fim. 

 

No que diz respeito a obra menos favorita… confesso, este foi um exercício inglório. Haverá algum livro de Jane Austen de que eu não goste? Não, não há. Eu gosto de todos por diferentes razões. Então, deve ficar assente: não há nenhuma obra de Jane Austen de que eu não goste. Então, tive de fazer o exercício de outra forma. Comecei a pensar qual obra teria algum aspecto que não tivesse me satisfeito por completo. Então, cheguei a conclusão que fiquei bastante penalizada por Fanny Price, em “Mansfield Park”, ter repelido Mr. Henry Crawford e de ter acabado por casar com Edmund Bertram. Eu chego a ser chata com isto, mas eu só consigo pensar “Como assim, Fanny, vais contentar-te em ser a solução sobressalente?”. Realmente, não consigo me conformar com um livro tão admiravelmente escrito com personagens tão interessantes e tão profundo ter um final tão óbvio. Acho que esta é a única mágoa que guardo na obra de Jane Austen.


 

 

Melhor vilão

Jane Austen, em suas obras, retrata a sociedade britânica de seu tempo, pessoas de seu convívio social e características daquele contexto histórico. Todas as personagens criadas pela autora são indivíduos reais, tipos que qualquer um de nós já conheceu ou convive. Deste modo, não há um vilão típico de filmes, novelas ou conto de fadas, mas pessoas egoístas, interesseiras, maldosas, invejosas, ambiciosas, que também possuem qualidades positivas, afinal são seres humanos contraditórios como todos nós.

 

Nesta linha de raciocínio, a personagem que mais se aproxima de um vilão para mim é a Mrs. Norris de “Mansfield Park”. Ela é mesquinha, invejosa, fuxiqueira, palpiteira, maldosa e vislumbrada com a riqueza e status social. O modo como ela trata Fanny Price me irrita e me revolta!Mrs.Norris faz descaradamente diferença de afeto, atenção e elogios entre seus sobrinhos, favorecendo dificuldades de relacionamento e discriminação entre eles, principalmente das filhas de Lady Bertram para com Fanny. Ela me lembra a madrasta da Cinderela! Ainda bem que no fim da história ela tem o que merece!

 

Outro personagem que se aproxima de um vilão é George Wickham, realmente, ele não é um cavalheiro! Conquistador, sedutor, astuto e persuasivo, engana até a expert em caráter humano, Elizabeth Bennet. Ele é muito interesseiro, viciado em jogos, inescrupuloso  e abusa de seu charme para conquistar mocinhas indefesas, como Georgiana Darcy e até Lydia Bennet (ela é assanhada, mas ingênua). Abusa da boa vontade de Mr. Darcy e sempre se coloca no papel de vítima das circunstâncias. Que canalha! Mesmo ao término do livro, nós percebemos que seu caráter não muda e Jane Austen sugere que ele e Lydia serão um eterno peso e preocupação para suas irmãs.

Sugestões do mês de Julho # 2

No post relativo às sugestões do mês Julho falta mencionar um blogue. Existem muitos que gostaria de aqui recomendar. Contudo, a escolhe só poderá recair sobre um. E eu aconselho, este mês, que vejam o "Economia cá de Casa" porque é um blogue virado para a poupança doméstica. Ora, para aqueles que todos os meses se debatem com a gerência de um orçamento que, a maior parte das vezes, não é o ideal devido às circunstâncias actuais, este blogue surge como uma lufada de ar fresco para nos ajudar nesta empresa difícil. É certo que fujo a todas as inclinações de literatura, mas é também verdade que para termos livros e internet, precisamos de uma ferramenta fundamental: o mealheiro. Aqui descobrirão ideias engraçadas, úteis e, sobretudo, económicas.

 

 

Melhor "Conquistador"

  • Henry Crawford

 

Eu fico confusa com este personagem... e é por isso que o escolho, porque, por momentos, eu acredito nele, acredito na sua "redenção", acredito na sua mudança. Ele convence-me e, apesar de tudo, não o fico a odiar no fim, como sucede com Wickham (que também me convenceu!).

 

Os Lugares de Jane Austen em Abadia de Northanger # 1

Bath, Pump Room

 

A acção de Northanger Abbey (NA) tem início em Fullerton, onde viviam os Morland, situado no Hampshire, perto de Andover. Para além desta são duas as outras localidades principais onde irão decorrer os acontecimentos deste romance. A saber: Bath e as suas ruas e colinas circundantes e a Abadia de Northanger, situada em Gloucestershire.   

 

 

Fullerton é uma paróquia administrativa, ou seja, uma aldeia onde antigamente a igreja detinha o poder administrativo. Nessa altura, antes da alteração da legislação, eram os padres ou vigários que tomavam a responsabilidade de regularem e organizarem estas pequenas comunidades.

 

No século XIX começam a perder importância devido ao cepticismo que se instala por razões de ineficiência e corrupção. O Poor Law Act Amendment, de 1834 vem então concretizar a retirar de soberania deste tipo de organização.

 

Bath é uma pequena estância balnear já referida neste blogue. Sabemos que Jane Austen não gostava de Bath. Aliás, na altura em que lá viveu nada produziu em termos literários. Contudo, será aqui que uma boa parte da acção de NA terá lugar. Resta-nos, pois, saber se as ruas e lugares mencionados existem mesmo ou se foram fruto da imaginação da nossa autora. Por mim, antes mesmo de investigar, estou em crer que estes serão reais. Porquê? Porque Jane Austen escreveu este livro como um esboço o que levaria a que não se desse muito ao trabalho de inventar lugares. Estarei certa? Vamos ver. Acompanhem-me então nesta pequena incursão geográfica pelos sítios de NA em Bath.

 

File:Grand Pump Room Bath.jpg

Pump Room, Bath - Fotografia retirada daqui

 

O Pump Room é um salão grande que existe há mais de dois séculos. Era considerado, ao tempo de Jane Austen, como o coração social de Bath. Trata-se de um salão termal onde também decorriam os encontros sociais tais como jogos e bailes. As pessoas bebiam água tépida que saía de um pequeno fontanário construído para o efeito. Poderá dizer-se que era um salão com alguma imponência. Ainda hoje é uma referência em Bath. Sobre este edifício vejam ainda este artigo.   

 

File:Royal Crescent in Bath, England - July 2006.jpg

O Royal Crescent, Bath - foto retirada daqui

 

O Crescent era uma residencialde trinta casas. Foi desenhado pelo arquitecto John Wood Younger e construído entre 1767 e 1774. Dele fazem hoje parte um hotel e um museu.

 

 

  Pulteney Street, Bath - fotografia retirada daqui

 

A Pulteney Street é uma rua larga que atravessa Bath. Em rigor, trata-se da avenida principal daquela cidade. Hoje é considerada uma avenida de grande importância, comparável às mais bonitas avenidas de França. Foi mandada alargar por William Pulteney, 5.º Baronete de Bath, um proeminente advogado escocês, membro do Parlamento, e um dos homens mais ricos de Inglaterra. Foi desenhada por Thomas Baldwin. Ficou completa em 1789 - ano em que rebenta a Revolução Francesa - e Jane Austen escreveria a primeira versão de AN, Susan, em 1798-9 (dez anos depois).

 

Laura Place foi construído entre 1788 e 1794 e fica situado no fim da Pulteney Street. Trata-se de um conjunto de quatro casas que constituem um quadrado irregular em torno de uma fonte. Esta, curiosamente só foi erguida no século XIX, não fazia parte do plano original e, como tal, não existia ao tempo de Jane Austen.

 

Espero que esta pequena viagem tenha sido do vosso agrado. Tivemos a oportunidade de verificar que todos os lugares em Bath, bem como a localidade de residência de Catherine, existiam mesmo à data da escrita de NA. E os restantes lugares? Vamos descobrir?

 

Revista Jane Austen Portugal - Maio 2011

A 5ª edição da Revista JAPT já está disponível online.

 

Esta edição teve como tema central a Abadia de Northanger onde analisámos a obra, os personagens e as adaptações.

 

Para participar na próxima edição, basta enviar um mail com o artigo para o nosso email: janeaustenpt@sapo.pt, o único requisito é cingir-se ao tema. No próximo número, o tema será Emma. Quem desejar pode enviar os textos até dia 30 de Julho. Para mais informações visite o nosso site

 

Clique na imagem para fazer o download gratuito da 5ª edição. Espero que gostem e divulguem!

 

Melhor história de amor secundária

Eu não sei se posso considerar os Crofts como casal com a melhor história de amor secundária. Escrevo isto porque quase não sabemos como a história deles se desenrola, apenas sabemos que foi muito rápido, embora o Almirante confesse que já conhecia o carácter da Sophy e isso decidiu a propor casamento.

Mas em todas as cenas em que eles aparecem nota-se a sua cumplicidade, a falta que sentem um do outro presente nas palavras de Mrs. Croft quando diz que só esteve doente quando esteve longe do marido.

Eles são unha e carne são inseparáveis ao ponto de irem dar passeios sem se importarem que o Capitão Wentwhorth fique sozinho. Para mim, são o exemplo perfeito da harmonia doméstica e de um casal que casou por amor. Eles demonstram que naqueles tempos era possível casar por amor.

Heroína Favorita e Heroína menos preferida

Ainda me falta ler O Parque de Mansfield e a Abadia de Northanger, mas eu não tenho uma heróina da qual goste mais ou menos. Considero que à sua maneira todas elas tem boas qualidades e defeitos. Revejo-me em alguns deles e penso que de uma maneira geral, isso acontecerá a todas. Quem nunca disse ou pelo menos pensou dizer umas quantas verdades sem pensar nas consequências, como Marianne Dashwood? Ou dizer algo bastante espirituoso como Elizabeth? Quem nunca sofreu de timidez aguda como Jane Bennet? Ou sofreu a incerteza de ter os seus sentimentos correspondidos como Elinor? E quem é que nunca pensou em juntar o amigo A com a amiga C numa inocente ida ao cinema, que oculta a secreta esperança que aquilo dê em algo, tal como faria Emma? Com certeza que já todos fomos persuadidos pelos amigos a fazer algo, que se não fosse por essa persuasão talvez a decisão fosse diferente e aí somos Anne Elliot.

Por isso, eu penso que todas as juntas as heroínas de Jane davam uma grande mulher, como não as pudemos juntar todas, temos de continuar a apreciá-las separadamente, mas nunca esquecendo que elas formam um todo.

Melhor personagem sarcástico

Mr Bennet, sem dúvida. E especialmente quando lida com a sua esposa, a interesseira, rude, fútil e egoísta Mrs Bennet. No primeiro capítulo de "O&P" temos os mais engraçados exemplos dessa sagacidade do Mr Bennet.

 

"...pois, uma vez que a senhora é tão bonita quanto qualquer uma delas, o Sr Bingley poderia escolhê-la a si como a flor do grupo."

 

"Está redondamente enganada, minha querida. Tenho o maior respeito pelos seus nervos. São meus velhos amigos. É  com consideração que a oiço mencioná-los de há vinte anos a esta parte, pelo menos."

 

Neste primeiro capítulo, Jane Austen descreve Mr Bennet como 'um misto extraordinário de petulância, sarcasmo, reserva e capricho que a experiência de vinte e três anos não bastara ainda para a mulher compreender o seu carácter.'

 

E não posso deixar de referir o capítulo XX, quando Mr Collins pede Elizabeth em casamento e ela recusa. Quando Mrs Bennet procura o apoio do marido para que faça Elizabeth mudar de ideias, ele diz à filha:

"Oferece-te uma difícil alternativa, Elizabeth. A partir de hoje não passarás de uma estranha aos olhos de um de nós. Se não casas com o Mr Collins, a tua mãe nunca mais te quererá ver; se casas, então serei eu que te repudiarei."

E depois do desapontamento profundo de Mrs Bennet perante estas palavras, acrescenta para ela:

"Minha querida, tenho dois pequenos favores a pedir-lhe. Primeiro, que no momento presente me autorize o pleno gozo do meu entendimento; e segundo, o do meu espaço vital. Ficar-lhe-ia eternamente grato se deixasse o mais breve possível a biblioteca à minha disposição."

 

Além do Mr Collins, Mr Bennet é dos personagens que tem as tiradas mais engraçadas e sarcásticas. Difere contudo do Mr Collins na inteligência e perspicácia com que diz as coisas, pois não tende a cair no ridículo como o sobrinho. Pelo contrário, demonstra grande cultura e segurança em si mesmo e nas suas acções.

 

Melhor personagem cómico

Podia mencionar Mr Rushword de "Mansfield Park" mas não estou muito à-vontade para o julgar dado que ainda (!!!) não li o livro.

Fico-me pelo Mr Collins de "O&P" que deve ser uma das personagens mais cómicas que Jane Austen criou nas suas histórias.

Mr Collins é um clérigo e um personagem extremamente cómico graças à sua combinação de gentileza e orgulho. Adora fazer discursos longos e tolos,  mencionando formalidades que não têm absolutamente nenhum significado. Para ele, o discurso não é um meio para se comunicar, mas um meio para que as pessoas ao seu redor o apreciem e uma forma de ele expôr aquilo que acha que as pessoas ao seu redor querem ouvir.

 

No fundo, tem bom carácter. Como sabe que será o herdeiro deLongbourn, tenta casar com uma das irmãs Bennet para que elas não fiquem desprovidas do seu lar e parca fortuna. Quando Elizabeth se recusa a casar com ele, ele considera o seu dever cumprido e transfere o seu afecto para Charlotte Lucas.

 

Mr Collins e Elizabeth Bennet: o pedido de casamento