Nem sei se o deva considerar um herói porque ele de heróico não tem nada. De bom irmão, sim, isso tem e é.
É esquisito vê-lo ficar com Fanny Price; quer dizer, é o fim que todos, no fundo, queremos e suspeitámos que vá acontecer.
No entanto, não me parece existir química suficiente entre os dois para fazer de Mansfield Park o grande romance que é. Torci fortemente para que a Fanny mudasse de ideias e acabasse por ficar com Henry Crawford; Teria seguramente apreciado mais uma mudança na personalidade dele (Henry) do que o final feliz de Fanny com Edmund.
Fiz o jantar, arrumei a cozinha, tratei da roupa, e sempre a pensar no mesmo: " Mr Darcy ou Cap. Wenthwort??"
Concluindo: Não conclui nada. Não me consigo decidir entre estes dois personagens. Cada um à sua maneira encanta-me de uma forma particular.
No Mr Darcy aprecio a timidez, a elegância, a devoção aos seus, o amor que depois de assumido é firme e gentil. Aprecio ainda a forma como ele disfarça tudo isto com aquele jeito altivo e importante; é um gentleman no verdadeiro sentido da palavra. Demora um bocadinho a alcançar o evidente e até tenta negar os seus próprios sentimentos; só por isso fico com as minhas dúvidas e passo ao Cap. Wenthwort.
Ah! Captain, my captain! Meus Deus, aquela carta!! Que homem escreve uma carta daquelas?! Que homem devota tão grande amor a uma mulher mesmo passados oito anos de separação?? É quase inconcebível. Estou agora aqui a pensar: mas porquê ir embora e voltar passados oito anos? Porque não ficou e lutou por ela?? Tempos diferentes... Era necessária fortuna para desposar uma mulher da sociedade como o era Anne Elliot e insistir seria apenas para a fazer sofrer ou mesmo antagonizar-se com os familiares. Ele preferiu esperar e lutar da forma mais adequada. Conseguiu e voltou, apto a desposar qualquer mulher, e mesmo assim, escolheu-a a ela: uma mulher apagada, não muito bonita, tranquila de maneiras e feitio mas sobretudo ainda apaixonada por ele.
Tenho a certeza que todas as minhas colegas irão escolher a carta que o Capitão Wentworth escreveu a Anne Elliott, afinal quem nunca sonhou receber algo assim que atire uma pedra. Eu gostava de receber algo assim, não nego, mas prefiro a carta de Darcy a Elizabeth e explico-vos porquê. A carta representa um momento de viragem no livro. Depois de a lermos, percebemos o bom sacana que Wickham é, e Elizabeth começa a ver Darcy com outros olhos. Além disso, ela revela um Darcy que quer pôr tudo claro para que não hajam dúvidas. Darcy podia ter contado tudo logo que Elizabeth o acusa, mas eu duvido que ela acreditasse nele, devido ao estado em que se encontrava.
Darcy podia ter omitido o plano de Wickham para raptar Georgina, julgo que bastava falar na recusa em tomar ordens e aceitar ser compensado monetariamente por isso e posteriormente, quando o cargo fica vago, pedir para ser nomeado, para que percebêssemos que Wickham não era boa pessoa. Revelar o rapto, é um acto de confiança, todos sabemos que este tipo de escândalo, manchava naqueles tempos a reputação da rapariga e era também mau para a família. Com a carta Darcy esclarece a sua conduta no caso Bingley/Jane, revela o verdadeiro carácter de Wickham e demonstra o amor que sente ao revelar algo que outros se preocupariam em esconder. O amor não só são palavras bonitas, os actos também contam e confiar é um deles.
Já sei que vou ser linchada pela maioria das admiradoras (e admiradores) das obras da Jane Austen, mas confesso... não sou grande admiradora da nossa... Emma. (calma, calma... Não se exaltem)
É que até a ingénua e infantil da Catherine Morland me parece mais interessante do que uma rapariga pedulante, convencida e mimada como é a Emma. Considera-se tão importante que até acha que pode decidir o futuro das pessoas sem sequer lhes perguntar se é isso que desejam. Pode até ter um grande coração. Mas parece-me forçado; tudo nela me parece forçado. Vive e sempre viveu numa redoma de vidro; com o casamento com o Mr Knightley continuará a viver nessa redoma. Queria que ela conhecesse o mundo real, onde não há sedas, fitas, xailes e vestidos glamorosos. Nenhuma das outras heroínas Jane Austen vive nesta situação confortável, situação que a pode levar a afirmar que não pretende casar-se. Se ela passasse necessidades ou encarasse um futuro decerto mais pobre, de certeza que mudaria de ideias e de comportamento.
Confesso ter um fraquinho pela Elizabeth Bennet de 'Orgulho e Preconceito'. Noto nela uma grande força de carácter e uma forma de encarar a vida com leveza mas simultaneamente com seriedade e responsabilidade.
No entanto, no meu top de heroínas favoritas, no número um, terei de colocar a Anne Elliot de 'Persuasão'. É que a Anne é constante; apaixonou-se, amou e ama o seu capitão. E, apesar de lhe criticar a falta de vontade própria e o facto de não ter lutado mais arduamente por aquilo que desejava, dou comigo a gostar do jeito dela, das atitudes dela, da maneira tranquila e empática com que encara tudo e todos. Será uma grande mãe seguramente e acima de tudo uma boa esposa. Amar assim, mesmo depois de perdidas todas as esperanças, não é para todos.
"Tom Bertram, que saíra, entrava outra vez na sala. E embora a honra de ser convidada fosse um pouco improvável, Fanny pensou que isso podia acontecer. Ele dirigiu-se, com efeito, para ela mas, em vez de a convidar para dançar, puxou uma cadeira e contou-lhe como estava o seu cavalo doente e a opinião do criado. Fanny viu logo que não ia dançar.
Depois disto, ele tirou um jornal da mesa e, percorrendo-o negligentemente com a vista disse:
- Se quiseres dançar, Fanny, vou dançar contigo.
Com um pouco mais de delicadeza, o convite foi rejeitado.
- Ainda bem - disse ele mais animado, pondo de parte o jornal - porque estou cansadíssimo. Só me admiro denque haja pessoas que possam aguentar tanto tempo a dançar. É preciso que estejam todos apaixonados para se distraírem com tal disparate. E parece que estão; se olhares, verás muitos pares de namorados; todos, excepto Yates e Mrs. Grant. E esta, aqui para nós, coitada, deve precisar tanto de um namorado como qualquer das outras. Deve levar uma vida aborrecidíssima com o marido.
Tom disse isto sem reparar que o Dr. Grant estava perto; ao aperceber-se disso, mudou tão de repente de assunto, que Fanny não pôde conter o riso.
- Que acontecimentos estranhos se passam na América, Dr. Grant! (...)
- Meu caro Tom - disse-lhe a tia - como não danças, penso que não te importarás de jogar uma partida connosco pois não? (...)
- Teria muito prazer - disse ele, levantando-se - mas agora vou dançar. Anda depressa Fanny (pegando-lhe na mão), não te demores, senão acaba a música. Fanny ficou satisfeita, mas era-lhe impossível sentir-se grata com o primo, que apenas resolvera dançar com ela para se libertar da maçada do jogo."
" ... there could have been no two hearts so open, no tastes so simliar, no feelings so in unison, no countenances so beloved. Now they were as strangers; nay, worse than strangers, for they could never become aquainted. It was a perpetual estrangement."