Miss Smith recebe a primeira proposta de Mr. Martin quando o "projecto" de Emma ainda estava a começar, havia, portanto, que terminar com tudo aquilo. A persuasão de Miss Woodhouse quando Harriet chega a Hartfield com a carta na mão, surte o seu efeito. É um momento engraçado no livro, uma vez que o desejo de Emma é exactamente o oposto daquele que diz.
Harriet, indirectamente influenciada pela amiga, rejeita a proposta. Os desígnios de Emma para o destino de Harriet são incompatíveis com Mr. Martin. Aliás, para Emma, é Mr. Martin que toma um tremendo atrevimento ao considerar Harriet sua igual... já o mesmo não pensa ela em relação à abismal diferença entre Mr. Elton e Miss Smith (curioso!).
"Miss Woodhouse, as you will not give me your opinion, I must do as well as I can by myself; and I have now quite determined, and really almost made up my mind -- to refuse Mr. Martin. Do you think I am right?"
"Perfectly, perfectly right, my dearest Harriet; you are doing just what you ought. While you were at all in suspense I kept my feelings to myself, but now that you are so completely decided I have no hesitation in approving. Dear Harriet, I give myself joy of this. It would have grieved me to lose your acquaintance, which must have been the consequence of your marrying Mr. Martin. While you were in the smallest degree wavering, I said nothing about it, because I would not influence; but it would have been the loss of a friend to me. I could not have visited Mrs. Robert Martin, of Abbey-Mill Farm. Now I am secure of you for ever."
Quando conhece Mr. Martin, a opinião de Emma é totalmente parcial e por vias persuasivas transmite à amiga uma imagem de "rusticidade" muito pouco próprias do bom gosto.
"They met Mr. Martin the very next day, as they were walking on the Donwell road. He was on foot, and after looking very respectfully at her, looked with most unfeigned satisfaction at her companion. Emma was not sorry to have such an opportunity of survey; and walking a few yards forward, while they talked together, soon made her quick eye sufficiently acquainted with Mr. Robert Martin. His appearance was very neat, and he looked like a sensible young man, but his person had no other advantage; and when he came to be contrasted with gentlemen, she thought he must lose all the ground he had gained in Harriet's inclination. Harriet was not insensible of manner; she had voluntarily noticed her father's gentleness with admiration as well as wonder. Mr. Martin looked as if he did not know what manner was.
"He is very plain, undoubtedly -- remarkably plain: -- but that is nothing, compared with his entire want of gentility. I had no right to expect much, and I did not expect much; but I had no idea that he could be so very clownish, so totally without air. I had imagined him, I confess, a degree or two nearer gentility."
"To be sure," said Harriet, in a mortified voice, "he is not so genteel as real gentlemen."
Harriet fica um pouco reticente em relação a tudo isto, mas aceita a opinião da amiga e toma-a como a relevante. Imaginemos o confronto de sentimentos que vão no interior daquela criatura... que não sabe se gosta ou não de Mr. Martin; gosta, mas não tem a certeza; mas Emma diz-lhe que ele não é seu igual; atrai a sua atenção para Mr. Elton... enfim! É demais para qualquer um!!
É natural que as atenções de Harriet se tenham desviado para Mr. Elton. Totalmente permeável como ela é às opiniões de Miss Woodhouse é compreensível que o incentivo forçado que a amiga fazia para o destino conjunto dela com Mr. Elton fosse ganhando forma na sua mente, embora, como sabemos, sem qualquer argumento válido. Emma teve a ilusão de uma ligação de Elton com Harriet e forçou cegamente todas as atitudes do primeiro como interesse na sua amiga e, consequentemente, induziu em erro os sentimentos de Harriet.
Podemos achar Harriet um pouco volúvel no que respeita às questões do coração... de facto, como se diz nalguma parte do livro, até parece impossível que Harriet se tenha apaixonado por três homens diferentes em apenas um ano... mas, caríssimas leitoras, o coração das raparigas de dezassete anos não muda assim tanto de século para século, e quem já teve dezassete anos conhece as incoerências dos sentimentos próprios da idade.
Mas como já referi no artigo anterior, Harriet escolheu, livre de toda e qualquer influência e escolheu lindamente!
Outro editorial de casamento e este realmente inspirado em "Emma". Este trabalho é apresentado como uma versão moderna do casamento de Emma com Mr. Knightley. Vocês poderão ver o post completo, "Vintage English Garden Wedding Inspiration", num dos blogues que eu visito com frequência: Style me Pretty. Lá irão encontrar as restantes fotos deste ensaio fotográfico.
Penso que a decoração é extremamente simples e bela. Guardo algumas reticências em relação ao vestido de noiva...
De qualquer forma, o resultado é de fazer brilhar os olhos de todas as moçoilas românticas.
Tornar-se alvo de uma amizade vinda de Miss Woodhouse deve ter sido uma grande surpresa para a incógnita Miss Smith. Tal situação poderia levar muito boa gente a considerar-se deveras importante e a deixar para trás toda e qualquer amizade pois agora acompanhava a Miss Woodhouse. Tal sobranceirismo não existe em Harriet. Vemos que ela mantém as amizades na escola e, embora incentivada no contrário por Emma, mantém relação com a família Martin.
"She was not struck by any thing remarkably clever in Miss Smith's conversation, but she found her altogether very engaging -- not inconveniently shy, not unwilling to talk -- and yet so far from pushing, shewing so proper and becoming a deference, seeming so pleasantly grateful for being admitted to Hartfield, and so artlessly impressed by the appearance of every thing in so superior a style to what she had been used to, that she must have good sense and deserve encouragement. "
Emma vê em Harriet um objecto para modelar a seu gosto. Harriet, com a sua simplicidade, venera Emma e alimenta-lhe uma certa vaidade que satisfaz o seu ego. Mas acima de tudo, preenche um certo vazio deixado por Miss Taylor - com Harriet, Emma não está sozinha.
"Harriet Smith's intimacy at Hartfield was soon a settled thing. Quick and decided in her ways, Emma lost no time in inviting, encouraging, and telling her to come very often; and as their acquaintance increased, so did their satisfaction in each other. As a walking companion, Emma had very early foreseen how useful she might find her. In that respect Mrs. Weston's loss had been important."
Embora não desgoste da amizade entre Emma e Harriet e o final da história seja bastante favorável... parece-me que Harriet serve apenas para provar a Emma quão negativa foi a sua influência. Emma melhorou-lhe as maneiras, enriqueceu-a com conteúdo mas também lhe deu esperanças frustradas, e quase pôs em causa a felicidade de tão terna criatura.
Mas não deixa de ser interessante que, no final de tudo, Harriet escolha, por iniciativa própria, o seu companheiro para o resto da vida, sem qualquer varinha de condão da nossa adorável Emma. É esta decisão que demosntra a evolução do carácter de Miss Smith, e Emma não deixa de ter razão quando, muitos capítulos antes afirma:
"Oh! Harriet may pick and choose. (...) And is she, at seventeen, just entering into life, just beginning to be known, to be wondered at because she does not accept the first offer she receives? No -- pray let her have time to look about her."
Nem de propósito... Abro a página do blogue de que eu gosto muito - "Design Sponge" - e vejo um editorial inspirado em Emma 1996. Como sabem, adoro este tipo de artigos e recriações. Partilho convosco, espero que gostem e visitem este blogue que tem sempre excelentes criações.
Jane é a única self-made woman neste romance de Jane Austen. Ficou orfã muito jovem e por isso rapidamente descobriu que tinha de cuidar de si mesma. Rapariga prendada, canta, toca piano, costura e está prestes a iniciar-se no ensino como perceptora/governanta; ou seja, faz tudo (e muito bem…)o que uma mulher de bem deve fazer no seu tempo. Pode mesmo afirmar-se que Emma não gosta de Jane exactamente por tudo isto, pela sua perfeição feminina, e especialmente quando Mr Knightley expressa o seu agrado perante a postura de Jane.
Jane está quase a tornar-se numa perceptora num mundo onde cuidar de crianças pode parecer algo muito altruísta mas também desagradável (crianças mal-cheirosas, chorosas, mimadas). No mundo de Highbury, as mulheres assumem esta posição apenas porque não são ricas ou não encontraram marido (veja-se o caso da Miss Taylor que quando passa a Mrs Weston deixa de ser governanta dos Woodhouse). E, apesar de poderem ainda ser consideradas mulheres de respeito não deixam de pertencer a um estrato social mais baixo. Talvez seja por isso que Mrs Elton se sinta na responsabilidade (irritante…) de apadrinhar Jane.
Quando chega a Highbury, Jane Fairfax está secretamente envolvida com Frank Churchill apesar de Emma parecer querer roubá-lo mesmo à frente dos seus olhos. Emma só muito tarde compreende que Jane não está envolvida com Mr Dixon como Frank a quer fazer acreditar. E essa é a razão pela qual ambos se divertem às custas da secreta amada dele. Jane não quer confessar ainda o seu envolvimento com Frank e, por isso, ele alinha na brincadeira (o que não me parece muito cavalheiresco, mas enfim… também nunca fui grande fã dele).
Jane Fairfax é uma rapariga resoluta mas calma, cujo comportamento indica que transporta consigo uma tristeza secreta. A sua beleza destaca-a mas a sua reserva torna-a desinteressante. Tal como Emma observa:
“there was no getting at her real opinion. Wrapt up in a cloak of politeness, she seemed determined to hazard nothing. She was disgustingly, was suspiciously reserved.”
Não será talvez uma avaliação muito justa mas é bastante correcta no que diz respeito à reserva de Jane.
O contraste entre a delicada decência e moralidade de Jane e a natureza apaixonada dos seus sentimentos é muito mais dramático que qualquer um dos conflitos que Emma experiencia na história. A sua situação é bem mais complicada que a da outra personagem uma vez que, não possuindo riqueza, o seu futuro será como governanta, enquanto que Emma sempre será rica e parte de um elevado estrato social.
O narrador dá pouco mais importância a Jane do que aquela que dá a Isabella Knightley, mas este facto parece acontecer por razões diferentes. Isabella não lhe ocupa muito tempo apenas porque não há muito a dizer sobre ela. Jane, por seu lado, não recebe muita atenção porque ela mesma assim o deseja. Afinal, um segredo para ocultar e um narrador curioso podiam interferir nos seus planos. Por outro lado, talvez não nos seja dada a oportunidade de saber mais sobre Jane Fairfax porque Emma não quer saber das qualidades dela e o nosso narrador tende a seguir a perspectiva de Emma. Apenas quando o segredo de Jane e Frank é revelado, só aí nos é dada a oportunidade de aprender mais sobre Jane como pessoa.
A revelação do envolvimento secreto de Jane com Frank torna-a numa pessoa mais humana, assim como a humanidade de Mr. Knightley é influenciada pelo seu amor por Emma. Na verdade, assim que o seu segredo é revelado, Jane torna-se numa nova mulher. Ri e faz amizade com Emma e Mrs Weston (a sua sogra). E se conseguir fazer de Frank Churchill um homem decente, será uma Mrs Churchill muito feliz!
Estes três senhores fizeram um belíssimo trabalho. Todos os três preenchem-me o imaginário do que seria o Mr. Frank Churchill. Todos os três são joviais, alegres e bonitos. Se me perguntarem dos três actores qual é o que eu mais gosto, eu direi sem pensar Ewan McGregor. Para mim, ele é excelente em tudo; mas, enquanto Mr. Churchill ele peca num aspecto: é extremamente bonzinho. Os outros dois actores, versão 1997 e 2009, captaram melhor a faceta manipuladora e o toque de malícia do personagem. Destes dois, acho que inclino pelo Raymond Coulthard (Emma 1997). Ele chega a ser maquiavélico...