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Cecília e Henrique eram, aos olhos dos outros, o par provável. Dos outros e deles próprios, embora Cecília tentasse a todo o custo, mentindo a si mesma, alimentar justificações puramente especulativas, que no fundo não tinham base de verdade. De facto faziam um casal perfeito, um belo conjunto quer em termos físicos, quer na questão do carácter e da sensibilidade.
A decisão de abandonar a relação tinha sido ela a impor. E sabia que ele nunca se iria conformar. Porém um certo silêncio fazia-a vacilar nesta convicção, acreditando aos poucos que de facto tudo estava consumado e jamais se voltariam a encontrar. Teria ficado eternamente no silêncio, não fosse a visita à sua tia, à sua irmã e a convivência social com D.Rata. Mas há coisas que não se podem evitar, especialmente quando se estabelecem relações familiares e de amizade com determinadas pessoas.
Pudera ela evitar, e talvez nunca tivesse sido alvo da tremenda maldade que lhe estava a destruir por completo todas as suas esperanças. Naquela tarde, quando Eduardo a procurara, Cecília não pôde imaginar o motivo que o leva a estabelecer tal contacto. Na verdade só se tinham falado brevemente, uma só vez, quando lhe foi apresentado como irmão de Henrique. De facto eram idênticos, muito bem parecidos no rosto e em termos físicos, porém completamente diferentes em termos de carácter. O bom e o mau, o preto e o branco, a claridade e a escuridão, afastando dois irmãos que, tendo em os mesmos pais, eram em tudo diferentes.
Naquele fatídico fim de dia,em que Eduardoa procurou no parque, usou todas as armas da sedução para lhe captar a atenção, utilizando para isso palavras enganadoras contra o seu próprio irmão. Vendo que não conseguira o intento, e apercebendo-se do pavor que causava a Cecília, abriu o jogo e, com toda a frieza que se consiga imaginar, assegurou-lhe que eliminaria o irmão se o casamento se consumasse. Havia alguém que pretendia Henrique, alguém poderoso e com influência, que persuadira Eduardo a afastar Cecília do caminho para poder conquistar Henrique. Com isso, o irmão traidor ganharia uma fortuna, que era tudo aquilo que lhe interessava na vida. Ela sabia que a ameaça era séria e que ele faria o que fosse preciso para conseguir o intento.
Perante o perigo, como podia Cecília não sacrificar o seu amor?