Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

as faces em Emma #3 | Miss Taylor/Mrs. Weston

 

Este é um caso em que, a meu ver, as três actrizes fizeram um bom trabalho. Acho que as três encarnam muito bem o personagem de Miss Taylor/Mrs. Weston. Tenho uma grande admiração por Greta Scacchi. É uma actriz que consegue dar uma ar de sabedoria e experiência em tudo o que faz e, por isso, escolho-a como a minha predilecta.

 

Emma, um manifesto anti-casamento?

Nos tempos de Jane Austen, o casamento era a quase única carreira disponível para as mulheres. Desde o momento em que eram apresentadas à sociedade que as mulheres tinham como objectivo encontrar um marido. Lembro-me de ler em E Tudo o Vento Levou de Margaret Mtchell que as mães ensinavam às filhas uma série de comportamentos a adoptar para arranjarem maridos, um deles era comer o menos possível em eventos sociais porque supostamente uma mulher com pouco apetite, era atraente aos olhos do homem. Não sei se nos tempos de Jane existiam este tipo de regras, mas a verdade é que E Tudo o Vento Levou passa-se durante a Guerra Civil Americana (1861-1865), e os livros de Jane foram escritos cerca de 50 anos antes, é de supor que existiam regras, ainda que possam ser diferentes das que são apresentado no livro de Margaret Mitchell.

 

Casar era um objectivo e por aquilo que lemos em Jane Austen, era um negócio, era desejável sentir afecto pelo futuro marido, mas era muito melhor se ele tivesse uma forma de sustentar um lar. Unir amor e dinheiro nem sempre era fácil. E por isso o casamento de Charlotte Lucas não nos surpreende ou o facto de Edward só puder casar depois do Coronel Brandon lhe dar a paróquia.  

Quem não casava ficava às sopas da família, ou então teria de arranjar um trabalho como preceptora, professora numa escola ou dama de companhia, não havia muito mais carreiras disponíveis. E como outras ficções nos ensinam estes cargos não eram profissões de sonho ou meios para alcançar satisfação a nível pessoal.

 

É de supor que muitos dos casamentos que aconteceram no circulo social e familiar de Jane Austen eram apenas uma tentativa desesperada de evitar a pobreza, a dependência económica ou ter de ganhar a vida com um trabalho. Jane não seria cega a estas coisas e de certeza que ao visitar amigas ou parentes casadas percebia que aquilo do casamento era na verdade um grande incomodo, porque a mulher era, muitas vezes, sujeita a uma vida infeliz da qual dificilmente conseguia escapar.

 

Talvez, ao ver isto Jane tenha decido criar uma heroína suficiente rica que não precisasse de casar. Quando li Emma pela primeira vez surpreendeu-me que ela afirmasse que não pretendia casar, algo revolucionário para a altura. E todas as vezes que o Mr. Woodhouse lamenta o casamento da Miss Taylor, agora Mrs Weston é de crer que ele pensasse que o casamento não era nenhum mar de rosas e ela estaria muito melhor na casa dele, onde embora fosse a preceptora de Emma, era muito bem tratada.

 

Penso que este livro, poderá ser considerado um manifesto anti-casamento e uma forma de criticar a obrigação que existia para contrair matrimónio ainda que não houvesse afecto ou vontade para isso.

 

 

Frank Churchill, o playboy "ambíguo"

Fonte: 123nonstop

Frank Churcill é para mim o playboy mais ambíguo da obra de Jane Austen. Com as suas maneiras astutas, consegue deliciar todos os que estão à sua volta, desde o pai, a madrasta (um pouco mais reticente no início), Emma, as pessoas das suas relações sociais. Exceptuam-se Mr.Knightley e Jane Fairfax. O primeiro, não obstante do seu sentido de perspicácia constante, parece revelar ciúmes por Frank flirtar com Emma. A segunda, numa aparente indiferença, tenta esconder os laços que os unem, isto é, o noivado secreto que escondem das suas famílias e amigos.

Destaco dois pontos na dualidade desta personagem, que embora dispares em termos avaliativos, revelam o carácter deste jovem. O primeiro é de índole negativo. Mr.Churchill alimenta especulações negativas quanto aos sentimentos e às acções de Miss Fairfax. Quando lhe é oferecido um piano, quiça de um “admirador secreto”, é ele próprio que explora um possível relacionamento entre Jane e Mr.Dixon, o marido da sua amiga de infância e criação. Ora uma suspeita deste género seria passível de arruinar o bom-nome de qualquer jovem, em especial daquela órfã cuja situação pessoal e profissional era particularmente frágil. Mesmo com todos os motivos que pudesse invocar (desviar o seu alvo amoroso das atenções públicas, pressionar de qualquer forma Jane a tomar uma decisão quanto ao seu futuro…), foi de facto uma leviandade imensa. Assim como flirtar com Emma, embora neste caso não sei até que ponto a imaginação casamenteira da protagonista e a pressão da família Weston não teriam fomentado tal situação irreal.

Mas por outro lado há um segundo factor que me faz “reabilitar” o carácter de Frank Churchill, e que é a forma delicada como trata Miss Bates e a sua mãe. Note-se que no final do filme “Emma” (1996) aparece representado em pintura (numa indicação de futuro), de braço dado com Jane Fairfax e Miss/Mrs.Bates. Mostra que, apesar de tudo, é alguém com bons sentimentos, que estima e protege a frágil tia e avó da sua amada.

Penso que Frank é um jovem que não é mau por natureza, e tem uma boa relação com a fortuna, pois casa com uma jovem sem herança, mostrando que preza o amor acima do dinheiro. E não sei se de facto se pode considerar um vilão, no pleno sentido do termo. Comparar Mr.Churchill a Mr.Willoughby, como já li algures, não faz grande sentido, a menos que se queira partir do carácter playboy das personagens, derivando o primeiro para os bons sentimentos e o segundo para os maus. Talvez Jane nos tenha querido mostrar que, partindo desta mesma base, cada personagem, cada pessoa é livre de escolher o seu próprio caminho, daí os dois exemplos apresentados. Pessoalmente simpatizo com Frank Churchill, um jovem obstinado que brinca com os jogos sociais e a imaginação fértil da sociedade da época, e se diverte muito a confundir as pessoas. Apesar de tudo, é um bom rapaz.