Se eu fosse um personagem de "Emma" seria...

Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Um vídeo que encontrei e que partilho aqui, está muito bem feito! :)
Esta não posso, não devo e não vou... deixar de partilhar.
Não se trata de nada que tenha directamente a ver com a nossa Jane Austen mas é tudo da mesma época e o estilo não deixa de ser semelhante; há orgulho, há preconceito, há sensibilidade, bom senso e muito, muito mais. É, no fundo, Pride and Prejudice mas com uma consciência social, uma colisão entre o agreste norte de Inglaterra e as delicadas sensibilidades do sul.
Foi uma das melhores prendas que me poderiam oferecer. E veio pela mão da Samanta Fernandes, autora do blogue brasileiro 'Improvement of mind' que simpaticamente se lembrou da minha adoração por esta obra quando a viu disponível na internet, com a tradução para português (brasileiro) da editora Landmark. Em vão, procurei e tentei adquirir esta edição, desde há uns meses para cá, mas as distribuições ou não eram feitas para a Europa ou então ficavam demasiado caras. Acabei por contentar-me em esperar mais um pouco.
Até hoje. Delirei quando recebi o mail da Samanta com a obra integral em PDF, em português, 646 páginas!! Tenho verdadeira adoração por esta obra desde que vi a série de 2004 da BBC com a Daniela Denby-Ashe e o Richard Armitage. (Acho que fui a Inglaterra de propósito para a poder comprar quando ainda não se conseguia fazer o download; mas não digam a ninguém...) E a banda sonora??? Meus Deus, é maravilhosa!! Os actores idem aspas, em particular o papel da Sinead Cusack que interpreta a mãe do industrial John Thornton. Claro para não falar dos dois actores principais que têm uma química fabulosa, além de desempenharem os seus papéis na perfeição.
Agora? Bem agora, precisava de meter férias forçadas para poder ler tudinho. Mas, como se viu até hoje, a paciência é uma das minhas (muitas :D) virtudes e eu vou saber esperar por um momento especial, de relaxamento total, para poder disfrutar a obra como ela merece. E estou ansiosa por ler o final. Quem gosta, sabe que a Elizabeth Gaskell escreveu aquele final de forma abrupta devido a questões editoriais, mas eu devo ser a única a quem aquele final, na estação de comboios, não convence ou agrada. Pareceu-me tudo muito rápido mas, infelizmente, é mesmo assim que é o livro pelas razões que já foquei.
Segue o trailer da série e a sinopse da obra (para quem não conheça).
E quem quiser o livro em português é só dizer nos comentários que eu envio.
Esta não posso deixar de partilhar aqui!
É a tradução de uma carta escrita pelo Mr Darcy a Elizabeth. Retirei do blog brasileiro 'improvement of mind' da Samanta Fernandes que foi quem fez a tradução de um dos textos que constam no livro 'Pemberley Medley' da Abigail Reynolds. Esse texto baseia-se no seguinte:
"E se Elizabeth acreditasse nas suspeitas de Charlotte que Darcy está apaixonado por ela e tomasse medidas para tentar desencorajá-lo? Ao invés de serem atraídos um pelo outro, todas as vezes que ele se encontram, eles acham uma nova maneira de se antagonizarem. Em desespero, Darcy resolve escrever uma carta a Elizabeth para transmitir o que ele não consegue falar-lhe. Esta carta é bem diferente da original do livro, mas incrivelmente romântica!"
"Rosings, five in the morning
Se esta carta não é para ser entregue às chamas, eu preciso considerar por onde começar. Eu contei-lhe tantas vezes, nos meus sonhos e nestas cartas, da minha ardente admiração pela sua pessoa, o extraordinário prazer que eu obtenho simplesmente de estar na mesma divisão que você, como o som do seu riso traz calor para o meu mundo frio, como os seus olhos brilham quando você me provoca, que é fácil esquecer que eu não usei nada mais do que olhares para comunicar aqueles sentimentos para você na realidade. Mas devo começar por algum lugar e fá-lo-ei pela noite do baile de Netherfield. Eu estava determinado a dançar com você naquela noite, a ter o privilégio de sua atenção por uma meia hora inteira, uma possibilidade tão intoxicante quanto um bom vinho. Por semanas permaneci discreto, ouvindo as suas conversas, notando para quem você sorria e de quem você preferia receber as atenções, o que fazia você sorrir, e como intercedia quando sentia alguém em risco de ser ofendido. Eu queria entender a sua magia, que encanto você usava para me manter escravo, que elemento secreto você possuía que não me permitia desviar o olhar; eu, que tinha olhado para as grandes beldades da sociedade e permanecido impassível.
Vim à Netherfield logo depois de instalar a minha irmã numa casa em Londres, depois do terrível caso do qual você está ciente. Eu nunca fui muito inclinado para eventos sociais, preferindo uma noite tranquila com alguns amigos do que um Baile em Almack, mas naquele momento minha aversão pela sociedade estava em sua maior intensidade. O homem que, embora nós tenhamos nos distanciado, era meu amigo mais antigo tinha me traído da pior maneira possível. Eu não estava com humor para fazer novos conhecidos, e qualquer coisa que me lembrasse caçadoras de fortunas me enraivecia. Eu não me importava com o que pensavam de mim, e sentia pouco prazer em qualquer coisa. Então, um dia, alguém numa festa pediu-me minha opinião sobre algo. Eu respondi concisamente, sem dúvida rudemente, e você virou seus belos olhos para mim e disse: “E enfim o Sr. Darcy deslumbrou o salão com seu conhecimento! Nós todos devemos estar devidamente gratos.” A sua voz risonha pareceu fazer as velas queimarem mais brilhantes, e eu me tornei seu prisioneiro. Mas toda vez que eu tentava aproximar-me de você, você parecia voar para longe. Você se recusou a dançar comigo em Lucas Lodge e depois em Netherfield durante a doença da sua irmã. Depois disso meu único prazer era olhar para você, ouvir você falar, pensar em você, sonhar com você todas as noites.
Minha querida Elizabeth – eu devo ter esperanças que você me irá perdoar pela minha ousadia em chamá-la dessa maneira; mas já que eu escrevi para você tantas cartas que nunca eram para serem lidas, e é de pouca importância para o fogo quão ousadas são as palavras que ele queima, eu tomei essa liberdade muitas vezes para renunciá-la agora, porque o som do seu nome, a aparência dele vindo da minha pena, é um prazer viciante – você não pode imaginar o tormento que eu senti ao deixar Hertfordshire, sabendo que era improvável que eu algum dia fosse vê-la novamente. Eu duvido que eu poderia ter encontrado a determinação para fazer isso por minha própria causa; foi apenas por um senso de dever para com Bingley que eu me forcei a deixar a teia de encanto que você tinha lançado sobre mim. Eu queria poder dizer que a esqueci rapidamente, mas isso seria uma mentira; você era o meu primeiro pensamento na manhã e meu último à noite, e você dançava através dos meus sonhos como uma ninfa da qual eu não podia ter esperanças de escapar, nem eu mesmo desejava. Por um tempo eu achei que isso me levaria a loucura, e eu tinha recém recobrado algum senso de mim mesmo quando deixei Londres para Rosings, apenas para encontrar a própria ninfa no final da minha jornada.
Mesmo um breve tempo na sua companhia foi o suficiente para me colocar mais uma vez no mais grave dos perigos, talvez ainda mais do que eu tinha estado em Hertfordshire, porque eu agora tinha a certeza de que eu não podia escapar de você. Eu tentei com todo meu ser me manter distante, mas um provocador Cupido continuava me jogando no seu caminho – na igreja, onde eu não podia prestar atenção no sermão, já que todas as minhas preces eram para você; quando você jantava em Rosings, e eu sabia que toda as expectativas familiares do mundo não podiam compensar pela alegria que eu recebia sempre que um sorriso tocava os seus lábios. Eu estava perdido antes mesmo de eu começar.
Eu te contaria do meu desejo por você, mas aquelas palavras não são adequadas para os olhos de uma donzela; aquela carta deve ser alimento para o fogo faminto, que não queima tão ferozmente quanto meu amor por você. Eu poderia escrever para você da profundidade da minha irremediável admiração por você e como ela superou todos os meus escrúpulos, mas palavras desse tipo provavelmente seriam tão imperdoáveis
quanto são inesquecíveis. Eu posso apenas te contar da lições que eu aprendi com você, minha querida, amada, Elizabeth; lições do coração, do erro dos meus modos e meu intolerável egoísmo em não considerar as sensibilidades daqueles que eu amo, lições que me fizeram um homem melhor. Elas também me transformaram em um homem que nunca irá esquecer o brilho dos seus belos olhos, a encantadora mudança do seu semblante quando você encontra uma vítima para as suas provocações, a extraordinária luz que você traz ao mais escuro dos cômodos; e eu vou sempre sentir a falta da sua presença quando eu estiver distante de você, mesmo que anos e décadas se passem. Você é uma mulher em um milhão, tanto pela sua honestidade e doçura quanto pela sua beleza e inteligência, e tem sido um privilégio ser um adorador aos seus pés. Á essas memórias eu não iria renunciar por nada, mesmo se elas forem as únicas que eu jamais terei de você.
Agora você vê o que apenas as chamas tinham visto até agora. Eu irei entender completamente se você me tratar como se essa carta nunca tivesse existido; de fato, eu não mereço nada mais, e você não precisa se preocupar que eu irei importuná-la mais. O seu amor é um prêmio que eu não ouso sonhar em obter, um precioso demais para um mero mortal como eu, mas se você encontrar alguma pequena parte de você que está disposta a considerar meu pedido, ou melhor, até mesmo tolerar minha presença ocasional, eu peço que você encontre alguma maneira de tomar piedade de mim e me mostrar o seu perdão por estas palavras. Eu estarei no bosque a cada manhã, meus pensamentos ocupados com você.
Eu irei apenas acrescentar, Deus a abençoe.
Seu, mais do que de mim mesmo,
Fitzwilliam Darcy"
[Emma] dearly loved her father, but he was no companion for her. He could not meet her in conversation, rational or playful. The evil of the actual disparity in their ages (and Mr. Woodhouse had not married early) was much increased by his constitution and habits; for having been a valetudinarian all his life, without activity of mind or body, he was a much older man in ways than in years; and though everywhere beloved for the friendliness of his heart and his amiable temper, his talents could not have recommended him at any time.
-Jane Austen, Emma, ChapterOne
Jane Austen era uma grande fã de heroínas com famílias ridículas que normalmente acabam bem. Se avaliarmos a fortuna de Mr Woodhouse em Emma, esta só será suplantada pela do seu vizinho em Highbury, Mr Knightley. Contudo, o ser abastado não impede estes nossos personagens de serem algo exagerados e, neste caso, o pai de Emma, apesar de não ser totalmente estúpido, não é exactamente uma pessoa inteligente ou perspicaz.
Pai de Emma e patriarca de Hartfield, Mr Woodhouse é uma personagem nervosa, frágil e conhecido pela sua simpatia e apego à filha mais nova. É pouco resistente a mudanças, chegando ao ponto de ficar infeliz por ver as filhas ou a sua governanta casar. Neste sentido, impede o crescimento e a aceitação da fase adulta de Emma e é, muitas vezes tolo e incapaz de acompanhar o desempenho intelectual da filha.
Emma, no entanto, assume uma postura generosa em relação ao seu pai, confortando-o com afecto genuíno. Raramente fala mal dele e quando o faz é bastante reservada e pouco se nota. Mr Woodhouse nunca "sofre de qualquer apreensão" e é geralmente alheio a qualquer coisa que não envolva directamente o seu conforto ou a sua saúde.
O que Mr Woodhouse é na realidade é um hipocondríaco que tem, além de Emma, dois amores na sua vida: a sua saúde e o seu médico. Mr Woodhouse preocupa-se muito com a sua comida e o seu médico, Mr Perry, é a pessoa que mais aprecia no mundo, além de Emma, claro. Quando percebe que ninguém está doente é uma pessoa muito animada, como se pode verificar durante o jantar que oferece em sua casa:
"Mrs. Bates, let me propose your venturing on one of these eggs. An egg boiled very soft is not unwholesome. Serle understands boiling an egg better than any body. I would not recommend an egg boiled by any body else; but you need not be afraid, they are very small, you see - one of our small eggs will not hurt you. Miss Bates, let Emma help you to a little bit of tart - a very little bit. Ours are all apple-tarts. You need not be afraid of unwholesome preserves here. I do not advise the custard. Mrs. Goddard, what say you to half a glass of wine? A small half-glass, put into a tumbler of water? I do not think it could disagree with you."
Noutras palavras, ele é um senhor mimado e elitista que tem a sorte de ter uma filha como Emma para suavizar as gaffes que ele comete perante os outros, sem sequer se aperceber do ridículo de algumas situações e de alguns dizeres.
Numa obra sobre o casamento como o é Emma de Jane Austen, Mr Woodhouse é um homem um pouco estranho e indiferente a essas situações. Se o amor, ou mesmo o casamento, está no ar, ele prefere não lhe dar importância e chega mesmo a tentar convencer as pessoas a não casar, principalmente se são pessoas cujo distanciamento lhe vai trazer mudanças na vida. E, neste aspecto, podemos dizer que é um pouco egoísta. Ele não está preocupado com o futuro de Mrs Weston ou Emma ou Harriet. Quando manifesta a sua tristeza relativamente aos casamentos da sua "poor Isabella" ou da "poor Miss Taylor" (que nunca consegue chamar de Mrs Weston), ele está na realidade a pensar em si mesmo. Se as pessoas se casam, passarão menos tempo em Highbury e consequentemente, menos tempo a mimá-lo e a olhar por ele.
Felizmente para os nossos enamorados Emma e Mr Knightley, Mr Woodhouse tem mais medo dos ladrões de galinhas do que tem do casamento, razão pela qual aceita que Emma case com Mr Knightley.
No universo austeniano há personagens que gostamos logo, outras que detestamos e outras que com o desenrolar da estória acabamos a gostar.
Mr. Elton não encaixa em nenhumas destas categorias, simplesmente porque não sei o que pensar sobre ele. Afável, simpático e bonito é quase tudo o que sabemos dele. O mais provável, como li algures, é ele ser o filho mais novo e por isso não teria fortuna ou pertencia a uma boa família que se encontrava em circunstâncias reduzidas, tudo boas hipóteses para o desenrolar do personagem.
Eu julgo que Mr. Elton seria um homem interesseiro e daí a proposta de casamento a Emma e o rápido casamento com Miss Hawkins. Para Emma almejar o casamento dele com Harriet, ele teria com certeza um bom rendimento proveniente da paróquia, que lhe permitia ter um lar confortável, sem necessidade uma esposa muito rica.
No inicio até pensei que ele ia ter muita importância na estória, mas enganei-me. Após recusado o pedido de casamento, Elton sai de cena para regressar casado com uma mulher de fortuna. A partir daqui, ele praticamente se eclipsa da estória dando lugar a Mrs. Elton.
Enfatuada, presunçosa, atrevida, ignorante e mal educada. Eis os simpáticos adjectivos que aparecem no capitulo XXXIII, logo após ser dito que o primeiro exame de Emma a Mrs. Elton fora deveras acertado. Se acrescentarmos insuportável, a esta pequena lista, temos o retrato fiel da Mrs. Elton.
Ela, para mim, pertence à categoria de personagens que detesto, ela é mesmo a mais insuportável de todas as personagens criadas por Jane. A Caroline Bingley também é igualmente insuportável, mas é um insuportável que tem justificação. A indelicadeza na forma como trata Elizabeth é justificada pelo ciúme que sente de Darcy.
Mrs. Elton acha que todos os habitantes de Highbury devem considerá-la uma espécie de rainha e nada deverá ser feito sem que ela possa meter o nariz. Tudo deverá passar por ela e pelo seu gosto impecável. Porque se tudo for organizado conforme ela quer, então será sempre muito bem e o melhor.
Mrs Elton toma-se de amores pela situação de Jane Fairfaix e faz tudo para que ela possa arranjar uma boa posição de preceptora. Não acredito que o faça por bondade, mas porque deseja que Jane lhe preste vassalagem pela ajuda e todos possam considerá-la uma alma caridosa.
Ninguém parece gostar dela no livro, eu pergunto-me se o próprio Mr. Elton ao fim de um tempo também percebeu que tinha errado na escolha de esposa. Talvez não, talvez fosse mais parecido com ela do que aquilo que a aparência deixa transparecer.