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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Diferenças: A Obra e o Filme "Northanger Abbey" (II)

 

CONTÊM SPOILERS

 

O diálogo entre Catherine e Mr. Tilney sobre a sua estadia em Bath, é colocado no filme durante a dança; originalmente, Jane Austen coloca-o aquando da introdução de Tilney a Miss Morland, antes, portanto, do convite para dançar. Se não me falha a memória, a conversa entre Tilney e Catherine durante a dança (que acontece na segunda dança) assenta na comparação que Tilney faz entre a dança e o casamento... um diálogo deveras interessante e tenho pena que esta adaptação não se tenha servido dele.

 

 

 

As torpezas de Thorpe #2

Eu não acredito que John Thorpe tivesse algum tipo de sentimento de enamoramento ou paixão por Catherine Morland que justificasse um assédio tão acentuado. Este assédio é tão intenso e despropositado que chega a ser irritante.

Então, o que terá despertado esta atitude? Apesar da inocência, da beleza e da candura que tornam Catherine encantadora, penso que a resposta reside em argumentos frívolos. A conveniência dela ser irmã do pretendente da irmã de Thorpe e uma suposta herança que os Allen lhe atribuiriam serão as duas respostas para esta questão. O assédio seria resultado desta busca pela conveniência e pelo dinheiro.

Não posso dizer que ele reconhecesse o risco que representava Mr. Tilney. Não o via como "concorrência" ao coração de Catherine. Acho que ele apenas o via como uma distracção a ser extinta, mas não com força suficiente para ofuscar o seu próprio brilho. Isto porque John Thorpe sempre agiu como se Catherine Morland fosse uma presa fácil e uma conquista garantida.

Se eu pudesse oferecer um presente a John Thorpe este presente seria um espelho. Um espelho bem grande. E um par de óculos. Talvez, assim, ele se enxergasse. 

 

As torpezas de Thorpe #1

 

Dentre os "canalhas" que Jane Austen desenhou na sua escrita, John Thorpe é o mais medíocre de todos. Os outros, apesar de canalhas, possuem algum encanto - mesmo que ilusório e superficial. Com Thorpe isto não acontece. Desde a primeira linha escrita sobre ele constatamos que ele é medíocre e execrável. Estarei a ser cruel? Talvez. Mas, em nenhum momento, ao longo de Northanger Abbey, consegui sentir outro sentimento que não fosse aversão por John Thorpe.

 

"John Thorpe,(…) enquanto deu um toque ligeiro e indiferente na mão de Isabella, na direcção de Catherine atirou o pé atrás e fez uma meia vénia. Era um jovem robusto, de estatura média, com um rosto normal e sem qualquer graciosidade, que parecia recear parecer demasiado interessante a não ser que vestisse o fato de lacaio  e demasiado cavalheiro se não fosse descontraído quando devia ser educado, e descarado quando lhe era permitido ser descontraído"

 

Encontro uma grande ironia na voz de Jane Austen nesta descrição de John Thorpe. Neste parágrafo, ela deixa bem claro quem ele é. Deixa-nos de sobreaviso, como quem diz "cuidado, este ainda vai dar mais trabalho do que merece!". 

 

Busquei a palavra ideal para defini-lo. Não encontrei. Lembrei de fazer esta brincadeira com a sonoridade do nome dele: torpe. Contudo, ele é bem mais do que isso. Esgoto toda a adjectivação que encontro e a lista seria infindável, porque John Thorpe possui todas as características que são abomináveis aos meus olhos: mal-educado, pretensioso, arrogante, interesseiro, grosseiro, indiscreto, inconveniente, mentiroso, intriguista, vaidoso, enfadonho e pouco inteligente. Tudo isto não resulta de um espírito que não tenha tido oportunidade de se cultivar. Apesar de não ter muitas posses não seria propriamente destituído. Poderia ser uma pessoa melhor se o quisesse. 

Blaize Castle em Northanger Abbey

 

" - Vamos ser capazes de fazer pelo menos mais umas dez coisas. Kingsweston! Claro! E o Castelo de Blaize também, e tudo aquilo que nos lembramos. Mas aqui a sua irmã diz que não vem!

- Castelo de Blaize! - exclamou Catherine - Mas o que é isso?

- É o lugar mais bonito de Inglaterra, que em qualquer ocasião merece que se façam cinquenta milhas para ser visitado.

- Mas é mesmo um castelo? Um castelo antigo?

- O mais antigo de todo o reino.

- Mas é como aqueles que lemos nos livros?

- Exactamente.

- Fale a sério... e tem mesmo torres e longas galerias?

- Às dúzias."

 

Capítulo 11, tradução de Luiza Mascarenhas

 

É assim que Jane Austen nos apresenta Blaize Castle, o cenário que serve para afastar Catherine do combinado com Miss Tilney, fortemente influenciada pela artimanha de Thorpe que a convence de que estes não irão cumprir o prometido de ir passear com ela.

 

Na realidade este castelo existiu e existe nos dias de hoje. É uma construção moderna em formato triangular, que foi mandada construir por Thomas Farr em 1766; situada em Henbury, muito para lá de Bristol, nos terrenos de uma mansão neoclássica, foi acabada de construir em 1790 por William Petty.

 

 

Como vêem, Blaise Caslte não passa de um castelo "a fingir", Thorpe estava, mais uma vez, a ludibriar a nossa ingénua heroína e a fazer-lhe passar uma imagem totalmente falsa daquilo que Blaise Castle era na realidade.

 

Diferenças: A Obra e o Filme "Northanger Abbey" (I)

Apresento-vos uma nova rubrica que aviso, tem demasiados spoilers e por isso só será aconselhável a quem já tiver lido a obra e/ou assistido à adaptação.

 

Muito bem, hoje trago-vos em que Catherine conhece Henry Tilney: A adaptação de 2007 afasta-se ligeiramente da introdução que Jane Austen escolheu para a nossa heroína.

 

Na obra, Catherine e Tilney não trocam palavras sem antes terem sido apresentados, o que sabem bem que não sucede nesta adaptação. Jane Austen apresenta Henry Tilney à solitária Catherine Morland pela mão de Mr. King, o anfitrião da festa.

 

Enquanto que na obra, Mrs. Allen acorre a Catherine (que já está em diálogo com Mr. Tilney) para lhe tirar um alfinete que furou o vestido; na adaptação de 2007, é um encontro de Henry Tilney que provoca esse incidente e daí deriva toda a conversa entre os três sem antes ter existido a devida apresentação.

 

Uma pequenininha diferença, sem grande importância, mas que serve bem o intuito desta rubrica.