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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Curiosidade

Estive a rever o filme de 1996 "Emma" com Gwyneth Paltrow e reparei que a música que toca durante a sua dança com Mr. Knightley é a mesma que toca durante a primeira dança de Lizzie com Darcy na versão de 1995 no baile de Netherfield.

 

Só consegui encontrar este vídeo com a dança do filme de 1996 "Emma", por isso, para reparearem na minha pequena e insignificante curiosidade, vejam o vídeo a partir do segundo 0:45.

 

 

 

 

 

 

 

 

A Grande Família Morland

 

Jane Austen apresenta-nos uma enorme família em Northanger Abbey. Mr. e Mrs. Morland parecem respirar de uma imensa felicidade, que também passam aos filhos. Fullerton parece ser um autêntico paraíso na terra, e enquanto leitores somos imbuídos dessa alegria, harmonia e paz - em Fullerton não há problemas, não há manhas nem artimanhas, tudo é genuíno e puro.

 

Mr. e Mrs. Morland são apresentados ao leitor da seguinte maneira:

 

O pai era padre; mas como nunca se mostrara desmazelado ou pobre, todos o respeitavam, embora se chamasse Richard e nunca tivesse sido bonito. Possuía considerável independência que lhe vinha de duas boas freguesias. Nunca tivera por costume cercear a liberdade das filhas. A mãe era uma mulher de senso prático, de bom génio, e, o mais importante, de boa constituição física. Quando Catherine nasceu já ela tinha três filhos; em vez de morrer ao dar à luz o último, como qualquer pessoa esperaria, continuou a viver. Viveu para ter mais seis filhos, para os ver crescer à sua volta e gozar de excelente saúde.

 

A senhora Morland era uma excelente senhora e queria que os seus filhos obtivessem os maiores êxitos, mas tinha o tempo tão ocupado com os partos e com o ensino dos mais pequenos, que as filhas mais velhas ficaram inevitavelmente abandonadas a si próprias. (1º Capítulo)

 

Não é um início muito auspicioso, mas também não é um início inteiramente censurável - Mrs. Morland sofria daquilo que muitos pais sofrem hoje em dia - falta de tempo. O que seria de esperar com dez crianças a cargo.

Também não estavam totalmente informados, viviam circunscritos a Fullerton e por isso, afastados do "mal" do mundo. A partida de Catherine com os Allen era, por um lado, triste, por implicar a ausência da filha; mas por outro, um alívio, por ficarem com menos um filho para se preocuparem, Catherine estava, aos seus olhos, inteiramente segura na companhia dos vizinhos e amigos Allen.

 

Era de supor que, à medida que se aproximava a hora da partida, aumentassem as preocupações da senhora Morland, e que mil pressentimentos alarmantes, motivados pela separação da sua querida Catherine, lhe enchessem o coração de tristeza, e a fizessem chorar nos últimos dois dias que estiveram juntas; e que na hora da separação, quando estivessem no seu quarto, ela prudentemente lhe desse os melhores conselhos, para a precaver dos fidalgos e barões que se divertem a forçar as raparigas a ir para alguma quinta afastada. Era assim que, nesse momento, deveria aliviar o coração. Quem é que não pensaria deste modo? Mas a senhora Morland sabia tão pouco de lordes e barões que não tinha a mínima ideia da sua maldade, nem suspeitava do perigo que daí pudesse advir para a sua filha.

 

As suas advertências limitaram-se a isto: - Catarina, vê lá se agasalhas bem a garganta quando fores à noite aos salões. Gostava que apontasses todas as tuas despesas. Para isso toma lá este livrito.

 

Mas os Morland não eram tão obtusos como posso estar a fazer passar. Podiam não estar conscientes dos perigos da sociedade citadina, mas souberam refrear a chegada solitária da filha depois de ser expulsa de Northanger:

 

Não eram pessoas que se irritassem de ânimo leve ou que julgassem com azedume as afrontas com que os melindravam. Mas, neste caso, quando tudo foi conhecido, consideraram-no como um insulto que se não devia pôr de parte, nem ser facilmente perdoado. Sem sofrerem nenhum susto romântico por pensarem na longa e solitária viagem da filha, os pais sabiam que devia ter sido muito desagradável para ela, e isso é que eles nunca quereriam que lhe tivesse acontecido.


Nós somos o espelho da educação que recebemos e a nossa base constrói-se a partir do berço, Catherine é o claro exemplo disso. 

 

Mr. e Mrs. Allen

 

Mr. e Mrs. Allen partilham a mesma alegria do casal Croft em Persuasão, embora não se completem tão harmoniosamente. Os Allen são um casal sem filhos e com uma considerável fortuna. São vizinhos dos Morland e amigos da família, daí que levem Miss Morland consigo na viagem para Bath.

 

Mr.Allen, que possuía a maior parte das propriedades de Fullerton, a aldeia de Wiltshire onde viviam os Morlands, foi aconselhado a ir para Bath para tratar a gota. A esposa, uma senhora alegre e amiga de Catherine Morland, sabendo que quando não acontecem aventuras a uma rapariga na sua terra,  ela tem de as procurar fora, convidou-a a ir com eles. O casal Morland concordou de boa vontade. (1º Capítulo)

 

Mr. Allen faz-me lembrar um pouco Mr. Bennet, contudo, ao contrário do último, Mr. Allen nutre uma verdadeira afeição pela mulher; e à semelhança de Mr. Bennet, também a trata com a devida condescendência.

 

Mrs. Allen é um pouco fútil, a "moda" parece ser a única coisa que lhe interessa e que a preenche. Mrs. Allen deveria assumir na história o lugar de "conselheira" de Catherine, guiando-a na sua "introdução" à sociedade. Isso não acontece, aliás, Mrs. Allen dá uma enorme e perigosa liberdade a Catherine e deixa-a fazer tudo o que ela quer. Como li algures, ela tem o papel de "não fazer nada de nada".

 

Mrs. Allen era daquelas muitas mulheres cuja convivência consegue surpreender, se pensarmos que houve um homem que pudesse gostar dela, a ponto de a desposar. Não era uma beleza nem uma inteligência; não tinha talento nem maneiras finas. Foi o seu porte senhoril, uma bondade pacífica e inactiva e certa propensão para a frivolidade que fizeram dela a escolhida de um homem inteligente e sensato, como o senhor Allen. De certa maneira, estava realmente talhada para introduzir uma rapariga na sociedade, porque gostava de ir a toda a parte e de ver tudo como se ainda fosse jovem. Os vestidos eram a sua paixão. Tinha grande prazer em andar sempre bem posta; por isso a apresentação da nossa heroína na sociedade não se pôde fazer antes de ter comprado um vestido da última moda para a sua protegida, depois de ambas passarem três ou quatro dias a saber o que mais se usava. (2º Capítulo)