( isto é capaz de ter alguns spoilers, por isso se não gostarem disso, por favor não leiam :) )
Posso-vos dizer que já vi a minha quota de adaptações deste livro, comecei pela versão de 1944, ainda a preto e branco, num dia que a mesma passou na RTP Memória. Ainda não tinham passado quinze minutos e já estava a torcer para que a Jane se livrasse daquela tia malvada o que acontece a seguir quando ela parte para Lowood. Orson Welles, que fazia de Rochester conseguia ser aquilo que o livro descrevia. Seguiu-se a leitura do livro, a série de 2006, a minha preferida, e ainda a versão de 1983 ( série da BBC), o filme de 1996, do qual a Clara falou hoje e a minha opinião é igual à dela e como não podia deixar de ser vi ainda uma outra onde o Ciarian Hinds fazia de Rochester.
à parte disso ouvi um musical feito em Los Angels que mais tarde chegou à Broadway, com muita pena minha só se consegue arranjar o audio, sem qualquer imagem.
Como podem ver, a minha lista é longa, embora esteja longe de estar completa e já podem perceber que eu adoro a Jane Eyre. Contudo, quando ouvi falar desta adaptação para aí em 2008, não puder deixar de pensar que haviam outros livros de outros autores que mereciam também ser dados a conhecer ao público. Pessoalmente, vejo as adaptações como uma forma de chegar a um público mais vasto e assim dar a conhecer livros que de outra forma possivelmente não conheceríamos.
Em 2008, a versão de 2006 estava ainda muito fresca na minha memória e eu achei desnecessário que outra viesse tomar-lhe o lugar. Mas o tempo passou e já estamos em 2011, o ano de estreia.
O elenco foi sendo conhecido e eu só torcia o nariz, eu tinha gostado da Mia no Alice no País das Maravilhas, mas não gostara nada do Michael Fassbender em Aquário, fiquei a pensar que realmente o filme não seria grande coisa, dos outros atores, pouco ou nada conhecia, por isso não tinha certeza que aquilo ia correr bem, apenas Judi Dench, que faz de Mrs. Fairfaz era uma velha conhecida, mas o papel é quase insignificante e um bom actor raramente consegue sozinho fazer um bom filme. Veio o trailer, alguns clipes e o meu julgamento foi severo, muito severo. Fassbender parecia-se demasiado com o Toby Stephens, o look dos cenários também e até a cena a seguir ao fogo me parecia demasiado igual.
Mesmo com muitas reservas decide ir ver o filme.
Para mim fazia sentido fazê-lo hoje, porque neste dia nasceu a Charlotte Brontë que escreveu o livro, fazia sentido ver se a sua obra tinha sido honrada neste dia especial.
Como podem ver eu tinha poucas expectativas de gostar disto... Mas, acho que tenho que aprender a não julgar tão rapidamente ou pelo menos a dar mais vezes o beneficio da dúvida, porque a verdade é que gostei muito do filme, muito mais do que estava à espera.
Infelizmente quando entrei o filme já tinha começado embora fosse estivesse muito no inicio, vemos a Jane a andar perdida pelos Moors e não deixamos de sentir pena dela, ela chega então à casa da família Rivers e aos poucos vai-se lembrando do seu passado.
Não dei pelo tempo passar e não me senti minimamente aborrecida. Senti todas as emoções que devia de sentir, alegria, tristeza, até fiz fisgas para que a mulher de Rochester não estivesse no sotão e isso foi importante porque o que mais peço de uma adaptação, mas até do que fidelidade à obra, é fidelidade aos sentimentos que ela nos dá.
Mia e Fassbender estão longe de serem tão bons como a Ruth Wilson e Toby Stephens, mas ambos conseguem dar vida aos seus personagens, dar-lhes emoções, o Fassbender mais do que ela até. A química embora ténue está lá. Judi Dench bem pode esperar a nomeação para o Oscar, embora a Mrs Fairfaix seja um papel pequeno, pareceu-me alargado especialmente para ela e com cenas muito boas, em que o olhar dela disse tudo. De resto, os cenários ( temos tal como na versão de 2006 Haddon Hall como Thorfield), o guarda-roupa, a banda sonora a cargo de Dario Marianelli nosso conhecido por Orgulho e Preconceito 2005, são elementos que mais que embelezar ou decorar dão vida à obra.
Não será a versão perfeita, mas alguma vez alguém a conseguira fazer? Mas é certamente a versão que nos fará gostar ainda mais de Jane Eyre e de Charlotte Brontë, embora não seja a versão ideal para se conhecer a obra já que muitos elementos e alguns importantes a meu ver foram cortados, daí quem já tenha lido o livro perceba melhor o argumento.
Como é possível que tantos anos depois, ainda se possa sair do cinema com o coração cheio de felicidade porque eles ficaram juntos? Ou ter vertido umas lagrimazitas de tristeza e alegria em certos momentos? Não sei, mas sei que essa é a magia de Jane Eyre, cuja a estória continuará a encantar gerações. Obrigada Charlottë por teres escrito este livro, significa muito para mim.
Na sequência do post anterior, achei que, antes de ver a versão mais recente, devia conhecer algumas das adaptações mais actuais, nomeadamente, a versão de 2006 (que já conhecia) e a versão de 1996. E foi o que fiz! (editado: afinal há ainda uma adaptação de 1997 com Ciarán Hinds que vou tentar encontrar).
Jane Eyre 1996 é um filme de 112 minutos, o que obriga à supressão de partes da história, no entanto, quer se tenha lido a obra, quer não, considero que foi um resumo bem feito - o essencial da história está lá. Embora cenas como a fuga de Jane Eyre de Thornfield ou o incêndio do Castelo, ou mesmo o regresso de Jane Eyre estejam muito "tremidas" em relação à obra original, creio que com um certo grau de benevolência é possível aceitar essas falhas.
Confesso que, para mim, a parte mais interessante do filme foi o início, extremamente bem conseguido. Para além disso, achei todo o filme muito mole, pachorrento... o rol de actores é bom: Fiona Shaw (Mrs. Reed), Amanda Root (Miss Temple), Charlotte Gainsbourg (Jane Eyre), Joan Plowright (Mrs. Fairfax), William Hurt (Mr. Rochester)... mas não sei, eu pelo menos terminei o filme com uma sensação de descontentamento.
Mr. Rochester não é "O Mr. Rochester" de Charlotte Bronte, falta-lhe enigma, mistério, aquela ironia mordaz e irritante, não destila charme nem encanto, não passa para nós a sensação de amor/ódio que e inerente a este personagem...e para além disso, não nos solta um sorriso.
Jane Eyre tem uma boa interpretação, não tão profunda como seria de esperar até porque, se não conhecesse a história ainda agora me estaria a perguntar de onde veio o casamento entre aqueles dois, uma vez que no desenrolar do filme, digamos assim, a "química" entre Rochester e Jane fica muito aquém - eu pelo menos, não me apercebi.
Os diálogos seguem praticamente à risca a obra original, algo que gostei particularmente, assim como da interpretação de Adèle bem mais interessante do que da sua sucessora em 2006.
No geral, não seria um filme que aconselhasse caso alguém desejasse ver Jane Eyre adaptado para o ecrã, mais depressa aconselharia uma tarde a ver a magnífica adaptação de 2006 ou até, às cegas, uma ida ao cinema.
Jane Eyre 2011 estreia hoje em Portugal! Ainda não sei quando irei ver, mas entretanto, deixo neste link, os locais, horários e salas onde será possível assistir à adaptação de uma das maiores obras literárias.
Um dos temas que mais me chamou a atenção nesta obra foi a história de amor e fortuna de Edmund Bertram e Mary Crawford. Um casal jovem que despertou interesse mútuo em ambas as partes, com um evidente entusiasmo pela outra pessoa. Porém, nesta história de amor há uma contingência: a fortuna. Mary age como uma autêntica agiota, desprezando a profissão de Edmund – clérigo – não tanto por uma questão religiosa, mas antes pelo “desprestígio” de status perante a mais alta sociedade e, sobretudo, e pelos (relativos) parcos rendimentos anuais.
Podemos pensar que se tratam das reflexões de uma tola e inexperiente rapariga. Mas será que, pelo facto de ter assistido à trágica história de Mary Bertram, só por si não devia ter aprendido que a busca de fortuna sem amor é o caminho para a infelicidade? É numa das cenas finais, em que ela assume que aprovaria uma traição relacional, em prol da manutenção das aparências maritais (e da fortuna!), que se conhece de facto o carácter desta jovem. Edmund fica devastado, tal como Marianne, de “Sensibilidade e Bom Senso”, onde esta história se repete. Também Willoughby troca o amor e a felicidade pela fortuna e se desgraça.
Num paralelo entre Willoughby e Mary Crawford, perguntamos: será que eles realmente amaram, ou se amam só e apenas a si próprios?
Marianne responde, citando o poeta “Amor não é amor se esmorece perante a distância, se verga perante a tempestade…”