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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Henry Crawford #3

- cegueira -

 

Sabemos que ele não era bonito mas que tinha boa aparência. Mostrou-se ser um conquistador e um “bon vivant”. Um namorador. Alguém que se divertia a exercer a arte da sedução e manipular os sentimentos. Todas estas características chegam aos nossos olhos através de palavras, acções e descrições.

 

Henry, pobre Henry… ele ainda não sabia. Ele ainda não sabia que o seu caminho havia de chegar a um ponto de paragem, a um momento de tomada de consciência. Ele não sabia que a sua vida despreocupada e vazia havia de lhe pesar bem mais do poderia imaginar. Nada o impressionava e nada o prendia.

 

Ele era cego e não sabia.

Henry Crawford #2

- o sedutor -


Henry Crawford não era, portanto, bonito. Tinha boa aparência e sabia usar das palavras. É através da voz de sua irmã Mary Crawford que vemos uma descrição da sua personalidade:

 

 “– Minha cara irmã – disse Mary – se você conseguir persuadi-lo a tal coisa, será para mim um grande prazer encontrar uma aliada de tanto valor e só sinto que você não tenha pelo menos meia dúzia de filhas para dispor. Se quiser que Henry se case, tem que procurar uma francesa. Tudo o que a habilidade inglesa poderia fazer já foi tentado. Eu mesma tenho três amigas, cada qual mais louca por ele; e os trabalhos por que elas, suas mães (por sinal muito sabidas), minha querida mana e eu mesma temos passado para fazê-lo reflectir sobre o assunto, e induzi-lo ao casamento, você nem imagina! É o maior namorador que se pode imaginar. Se as senhoritas não querem sofrer uma decepção é melhor que o evitem.


Um conquistador, um namorador, um galanteador – eis como Henry Crawford é-nos apresentado. E também é assim que ele demonstra ser ao longo da história. Encontro na raiz desta sua característica de conquistador um factor que se torna evidente: a inconstância. Henry é dono do seu destino e pensa ser dono de suas vontades. A verdade é outra: a sua vontade é facilmente modelada. Inconstante. Extremamente inconstante. Ele vai com a sua irmã Mary Crawford até Mansfield Park apenas com o intuito de a acompanhar e acaba por mudar de ideias ao saber das irmãs Bertram. Elas não representam somente o desafio da conquista – porque não chegam a ser realmente um desafio já que caem tão facilmente na sua rede –, representam sobretudo um divertimento. A conquista é um divertimento e o divertimento o impede de sentir-se entediado. O prazer e o divertimento serial o antídoto contra o tédio. Disto tudo deriva a sua inclinação para a inconstância.

 

“Infelizmente Henry Crawford tinha verdadeiro horror por qualquer ideia de residência permanente ou prescrição de sociedade

 

Conquistar a irmãs Bertram foi extremamente fácil. Bastaram três encontros sociais.

 

“Nunca Miss Crawford vira admiração igual à das Misses Bertram por Henry.”


O que poderia até ter gerado um certo desinteresse em Henry de tão fácil que foi a dupla conquista. O divertimento residiu no facto de ter gerado entre as irmãs Maria e Júlia uma disputa e uma dualidade. Quem seria a primeira a conseguir conquistar as atenções de Henry. Quem Henry escolheria? Henry deliciava-se e divertia-se com esta disputa. Ao mesmo tempo, era aliciante enredar Maria – uma jovem noiva e comprometida – numa série de galanterias que a levaram ter uma postura duvidosa.

 

“Sim, e por isso mesmo mais a aprecio. Uma mulher comprometida é sempre mais agradável do que outra que não o seja. Está contente consigo mesma. Não tem mais preocupações, sente que pode exercer todos os seus poderes de sedução sem causar suspeitas. Uma senhora comprometida está fora de perigo; nenhum se lhe pode fazer.


Henry assemelha-se a um canalha. Alguém que não se preocupa com os sentimentos dos outros e com os estragos que poderia estar a fazer na vida de duas jovens. Quantos mais estragos poderá ter feito antes de chegar a Mansfield Park? Quantas jovens terá atingido com a sua fala mansa e jogos de sedução?

Maria Bertram

 

Maria Bertram é uma das personagens de Jane Austen que menos gosto. Se o seu marido Rushworth é uma pessoa em qualquer conteúdo, Maria é uma pessoa com conteúdo a mais... Fútil e interesseira. Faz-me lembrar assim como a sua irmã, as irmãs da gata borralheira. Trata mal Fanny porque sempre se sentiu superior a essa. No entanto e como é possível avaliarmos Fanny não é em nenhum aspecto inferior a Maria, muito pelo contrário. Maria é uma mulher bela que acha que consegue tudo apenas pelos poderes do seu belo "palmo de cara". O que fez a Mr Rusworth é imperdoável mas no fim ela teve o que mereçe. Divorciada, ela espera pelo pedido de casamento que sempre quis ouvir de Mr Crawford. Esse nunca veio. No final e apesar da vergonha pelo qual Rusworth passou, compensa saber que a menina Maria não acabou nada bem. Se não fosse a compaixão da sua tia, Maria estaria verdadeiramente condenada. Eu penso no entanto que esta personagem, tal como outros membros da família Bertram são muito apagados e a reacção do pai da Maria quando soube o que a sua filha fez faz-nos pensar isso mesmo. Ela fazia-se passar extremamente bem, por alguém que não era. Mesmo dentro da sua própria familia, ela era uma actriz, uma personagem.