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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #21

- Sensibilidade e Bom Senso (1995) | 19 -

cenas marcantes 2

 

 

Os homens na vida de Marianne são Willoughby e Coronel Brandon. Willoughby foi o seu primeiro amor. Coronel Brandon transformou-se no seu amor, um amor construído. No livro, nós vemos que Jane Austen desenha o primeiro encontro entre Marianne Dashwood e Willoughby num dia de chuva em que ela sofre uma queda e ele vem em seu auxílio. No filme, esta mesma cena é retratada e vemos Willoughby a carregar Marianne em seus braços até a sua casa. Posteriormente, no filme vemos uma cena semelhante quando Marianne, melancólica e deprimida, passeia pela propriedade de Mr. Palmer até conseguir ver, à distância, a propriedade de Willoughby. Isto depois de ter descoberto o verdadeiro carácter do mesmo. Marianne caiu ou deixa-se abater e caiu, debaixo também de uma forte chuva. Foi Coronel Brandon quem a encontrou e a – também – a carregou nos braços.

Duas cenas, dois tempos e duas pessoas diferentes. De uma cena à outra, este é o tempo que dura o alimentar de amor por Willoughby. É ali que Marianne desiste. Sem ela saber, é ali que recomeça: ela se tornou outra pessoa e o seu coração irá despertar. Acho curiosa esta opção do roteiro de conduzir todo o processo de doença de Marianne desta maneira e, ao mesmo, marcar de forma discreta o começo da mudança no seu interior.

 

Revista Jane Austen Portugal - Fevereiro 2011

De agora em diante, haverá um intervalo de um mês entre cada edição, sendo que a data de publicação será, preferencialmente, no  primeiro dia de cada mês.

 

Trago hoje a 2ª edição, totalmente dedicada a Orgulho e Preconceito. Para participar basta enviar um mail com o artigo para o nosso email: janeausten@sapo.pt, o único requisito é cingir-se ao tema. No próximo número, o tema será a controversa obra de Jane Austen - O Parque de Mansfield. Quem desejar pode enviar os textos até dia 30 de Abril. Para mais informações visite o nosso site

 

Clique na imagem para fazer o download gratuito da 2ª edição. Espero que seja do vosso agrado!

 

 

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #20

- Sensibilidade e Bom Senso (1995) | 18 -

Secundários e fundamentais

 

Uma história não é somente feita de protagonistas. Há sempre os personagens secundários, alguns até com pouca visibilidade, que fazem toda a diferença no enredo. No caso de Sensibilidade e Bom Senso (1995) encontramos excelentes personagens secundários que se tornam uma espécie de alinhava para que toda a trama ganhe um sentido. Na mesma linha de raciocínio, o filme possui interpretações de personagens secundárias de qualidade. Gostaria de destacar brevemente alguns personagens secundários. Mrs. Jennings é das minhas preferidas. Não consigo ter a mesmo reacção de irritação que Marianne sempre tinha quando a ouvia falar. É bem verdade que ela é um pouco indiscreta, faladora e – algumas vezes – até inconveniente; mas, vejo-a com um bondoso coração. Acho que Elizabeth Spriggs (que faleceu em 2008) fez uma excelente Mrs. Jennings. O casal Palmer conquistou-me algumas gargalhadas. Neste filme, o casal é interpretado por Hugh Laurie (Mr. Palmer) e Imelda Staunton (Mrs. Palmer) e acho que eles criam a dinâmica que Jane atribui ao casal no livro. Por último, tenho de falar de Lucy Steele. A detestável Lucy Steele. Uma das personagens que gera em mim uma enorme repugnância. Foi interpretada pela actriz Imogen Stubbs e acho que esteve à altura de uma Lucy Steele sonsa, rasteira, interesseira e manipuladora.

 

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Obs: Gostaria de destacar aqui um post que a Vera fez há algum tempo sobre Mr. Palmer|Hugh Laurie. Lembro que, na altura, voltei a ver o filme por causa do post dela: O Mr. Palmer de Sensibilidade e Bom Senso

 

 

 

 

DESAFIO | Bicentenário "Sense and Sensibility" #19

 

 

- Sensibilidade e Bom Senso (1995) | 17 -

Greg Wise

 

 

Não posso dizer que aprecie Willoughby. Tenho para mim a teoria de que Marianne Dashwood só se apaixonou por ele porque a sua aparição na vida dela ocorreu de uma forma inusitada: auxiliou-a num momento de aflição e – porque não dizer – com todo um cenário romântico a envolver a acção. Para além disso, era jovem, muito bonito e com gostos semelhantes aos dela.

Foi uma combinação irresistível para Marianne.

Em Sensibilidade e Bom Senso (1995) este personagem é interpretado por Greg Wise. Não digo que ele me cause a mesma decepção que Hugh Grant (Edward Ferrars), porque até acho que ele fez um Willoughby razoável. Contudo, eu também não encontro nele o “Jane Austen Factor” (existirá este conceito?), ou seja, não o visualizo como um homem ao estilo Jane Austen. Houveram, porém, dois momentos no filme com ele muito bons: a cena do baile em Londres, quando Marianne o encontra e o questiona à frente de todos; acho que nesta cena Greg Wise foi excelente a passar toda a sensação de incómodo e constrangimento com a situação. A outra cena é próxima do final do filme quando Willoughby surge no alto da colina a observar o casamento de Marianne com o Coronel Brandon. É uma liberdade da adaptação que dá um remate muito bom. Lembro-me de ficar surpreendida com esta opção. Lembro-me também de pensar que seria plenamente possível de acontecer: Willoughby a assistir de longe o destino que poderia ter sido o seu e, talvez, a lamentar a sua fraqueza.

 

 

uma quase redenção

Para quem leu ou viu algum filme sobre Mansfield Park conhece o final. Fanny não cede a Henry, este por sua vez enfraquece e cai na tentação chamada Maria. A “desgraça” abate-se sobre a família Bertram à sombra do escândalo da infidelidade. Mas, no fim, como em todas as histórias de Jane Austen, tudo se resolve, tudo se acalma e tudo se compõe.

 

Fanny acaba por casar com Edmund. Mas, permitam-me expressar a minha opinião, que proposta tão sem sal, tão sem propósito e tão com sabor a prémio de consolação. A mim, sempre me pareceu que Edmund não teve coragem de assumir o seu sentimento por Mary Crawford nem antes nem depois do escândalo. E, por ter de se conformar de que não poderia tê-la lá se lembrou das qualidades da prima e lá constatou de que até vinha a calhar pedi-la em casamento. Tenho de confessar-vos de que não gosto deste final.

 

Eu acreditei em Henry. Tenho pena que nem Fanny nem Jane Austen tenham acreditado. Penso que ele reconheceu e identificou todas as qualidades de Fanny: ele olhava-a e via uma mulher, uma grande mulher; enquanto o primo só sabia ver a prima que tinha paciência para lhe ouvir. Henry lutou, persistiu, pediu-a em casamento, declarou-se, procurava realmente ouvi-la, entendê-la e, sobretudo, por causa dela, procurou mudar de atitudes. Ele procurou a redenção. Ele falhou, é verdade. A dada altura, ele desistiu. Mas para um espírito inconstante e cônscio das suas falhas, Henry procurou ser merecedor e mostrou que poderia ser. Fanny foi impiedosa. A dada altura, pareceu-me que ela quase que acreditava, quase que se deixava levar, quase que correspondia… Um pouco mais e talvez Henry alcançasse o coração de Fanny. A persistência abandonou-o pelo caminho.

 

E sobre o desenlace, todos sabemos.

 

Assumo que, nesta obra de Jane Austen, o meu coração foi capturado pelo “canalha”. Prefiro Henry - um pecador assumido, que se mostra disponível para a redenção - do que Edmund - um virtuoso superficial, que diante da provação cai com demasiada facilidade e cujos actos contradizem as palavras. Talvez ambos tenham sido reféns dos seus próprios sentimentos e constataram que é o viver a vida que comprova a validade das nossas convicções.

 

Fanny ganha a pessoa com quem sempre sonhou. A meu ver, sai perdedora.

Fanny Price #6

- em silêncio -


O seu coração pertencia ao seu primo Edmund e ninguém podia adivinhar que este sentimento a atormentava. O sofrimento dela, a meu ver, não residia em não ser correspondida, mas em ver aquele a quem amava a dedicar amor a outra pessoa. Fanny sofria por ver Edmund amar Mary. Fanny sofria porque Mary representava tudo aquilo que ela não era e nunca iria ser. Mas, sobretudo, Fanny sofria porque desde que o primo conheceu Mary Crawford, ele deixou de ser quem sempre foi e passou a ter atitudes que anteriormente ele próprio recriminava. Fanny, de alma e de coração constantes, feria-se a cada capitulação de Edmund. Via-o cada vez mais longe de si e mais perto de Mary. 

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