Anne Elliot #2
"Anne , possuidora de uma elegância de espírito e uma doçura de carácter que deveriam tê-la colocado num elevado lugar na consideração de qualquer pessoa dotada de verdadeira compreensão, não era ninguém, nem para o pai nem para a irmã: a sua voz não tinha qualquer peso; a sua voz não tinha qualquer peso; a sua conveniência residia em transigir, ceder sempre - era apenas Anne."
Quantos sentimentos guardará o coração de Anne Elliot? Quanta paixão existe por detrás de seus gestos? É quase um lugar comum considerá-la lenta, sossegada, conformada e "boazinha". Afasto-me totalmente desta caracterização. Para mim, Anne Elliot foi e sempre será uma mulher com classe, com rectidão, com bom senso e corajosa. O grande problema na vida dela é que ninguém lhe reconhece isto. O seu pai e irmã a ignoram e a tratam quase como uma criada, Mary (sua irmã) trata-a como se ela tivesse a obrigação de a consolar, Lady Russel (que apesar de a amar sinceramente) trata-a como se ela não tivesse qualquer tipo de capacidade de discernimento e até Wentworth acredita na sua falta de firmeza de carácter. O cunhado e a família dele, que até demonstram afecto por ela, não lhe dedicam atenção. Apenas usufruem do bem-estar que a companhia dela proporciona. Anne é profundamente incompreendida por todos. A meu ver, para além de um amor frustrado, é deste aspecto - da incompreensão - que advém toda a sua tristeza. Deixem-me ser bastante franca, a forma como ela é tratada pela família mais próxima cria em mim um sentimento de revolta.
Vemos ao longo da história o descaso e a forma humilhante como ela é tratada pela família e a tudo isto ela nunca responde na mesma moeda. Nunca lhe vemos uma palavra amarga. Nunca lhe adivinhamos um gesto brusco. Nunca lhe escapa sequer uma queixa. Acompanhamos o seu sofrimento de ter aberto mão do seu grande amor e de vê-lo a cortejar outra pessoa.
Eu não faço segredo de que amo este livro - Persuasão - e de que me identifico com Anne Elliot. Ler o seu percurso é, muitas vezes para mim, como olhar-me ao espelho. Identifico-me com o que é dito e descrito; abraço o que fica por dizer.
Para mim, era muito importante falar sobre Anne Elliot neste dia em que completo 35 anos. Mas ainda muito mais terei a dizer.