Os lugares imaginados de Jane Austen em Sensibilidade e Bom Senso
Toda a obra de Jane Austen está cravada de realismo, não só social e económico como também geográfico. Jane não extravasa os locais geográficos que conhecia. Se nos recordamos da sua biografia e da sua obra verificamos que, geograficamente, estas se situam, praticamente, na zona sul de Inglaterra. Tal aspecto torna, para mim, ainda mais fascinante a sua personalidade e a sua obra. Quantos escritores viajaram pelo seu país e pelo estrangeiro para poderem escrever um poema ou um romance? Jane não necessitou disso. Partindo da realidade que conhecia, criou um novo mapa para as suas obras em que locais reais se confundem com locais imaganidos; em que distâncias reais assumem novos caminhos e novas latitudes ao sabor da sua pena.
Num post anterior referi os lugares reais que constam da obra de Jane, tendo-os dividido em locais que Jane apreciava e os que ela não gostava de todo ou menos apreciava. Este post é, ao contrário, apenas dedicado aos lugares imaginados, circunscritos a "Sensibilidade e Bom Senso", que inspirados na realidade acabaram por ser fruto da imaginação de Jane.
Em baixo encontramos um mapa, retirado daqui, com os locais reais e fictícios devidamente assinalados.
Em "Sensibilidade e Bom Senso" encontramos locais reais como o condado de Sussex, onde se situa "Norland Park", a residência dos Dashwood, que mais não era do que um lugar retirado da imaginação de Jane. Havia muito que a família Dashwood se instalara no Sussex. A sua propriedade era grande e mesmo no centro situava-se Norland Park, a sua residência, onde há muitas gerações viviam tão respeitavelmente que conseguiram conquistar a consideração de quem nas redondezas os conhecia.
Norland Park - retirado daqui
No entanto, como sabemos, a acção irá decorrer principalmente no condado de Devonshire, também no sul de Inglaterra, mais concretamente no Barton Park e em Barton Cottage, para onde se mudam as meninas Dashwood depois da morte de seu pai. Se é com tristeza que deixam o Sussex, é com alegria que irão receber nos seus corações Devonshire. Este era inicialmente imaginado como um sítio impossível de gostar, mas ao entrarem no condado verificam que este tem mais beleza do que a princípio imaginavam. Jane descreve a chegada das meninas Dashwood a Barton Valley com bastante leveza. Este lugar, parece-me, é retirado apenas da sua imaginação em harmonia e perfeito enquadramento no realismo paisagístico daquele condado.
Barton Cottage - retirado daqui.
A primeira parte da viagem foi realizada com um estado de espírito tão melancólico que não podia deixar de ser aborrecido e desagradável. Mas à medida que se aproximavam do fim, o seu interesse pelo aspecto de um condado onde deverima passar a habitar venceu a sua tristeza e vista de Barton Valley, quando aí entraram, trouxe-lhes alegria. Era um lugar agradável e fértil, muito arborizado e rico em pastagens.
Barton Cottage, a casa para onde se mudam, é descrita da seguinte forma: (...) apesar de pequena, era confortável e sólida; mas como pequena casa de campo tinha defeitos, pois a construção era simétrica, o telhado era de telhas, as portadas das janelas não estavem pintadas de verde, nem as paredes estavam cobertas de madressilva. Uma passagem estreita levava directamente, através da casa, até ao jadim de trás. De ambos os lados da entrada havia uma sala de estar, com cerca de dois metros quadrados; atrás era a zona de serviço e as escadas. Quatro quartos e dois quartos de arrumos compunham o resto da casa. Não fora construída há muito e estava bem conservada. Em comparação com Norland, era, sem dúvida, pobre e pequena!...
Já a zona circundante da casa é assim apresentada: Logo atrás dela elevavam-se altos montes e de ambos os lados havia outros, não muito distantes. Uns eram despidos, outros cultivados e arborizados. A aldeia de Barton localizava-se num desses montes e proporcionava uma bonita vista das janelas da casa. Da parte da frente o panorama era mais amplo, dominava o vale e atingia o distrito seguinte. Os montes que circundavam a casa delimitavam naquela direcção o vale. Sob outro nome e nouro sentido, ramificava-se de novo entre duas mais abruptas elevações.
Depois destas decrições, fica o desejo de ir calcorrear as pegadas de Jane Austen por entre montes e vales, cidades e casas de campo, e olhar as paisagens que outrora inspiraram Jane Austen. Quem sabe, um dia?