Introdução aos Estudo Crítico de Jane Austen
Trouxe da biblioteca da minha universidade este livro: Introdução ao Estudo Crítico de Jane Austen, Álvaro Pina. Não foi uma leitura fácil, o autor, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem uma escrita própria para estudantes/investigadores desta área, ora, eu, sem qualquer preparação a este nível, tive algumas dificuldades, até porque não estou dentro do tema - sou apenas uma leitora de tempos livres da obra de Jane Austen. No entanto, gostava de partilhar algumas ideias e, nesse sentido, vou colocar aqui pequenos trechos da publicação.
"(...) e Jane Austen, que nunca sentiu a necessidade de se libertar da estreiteza da sua cultura - que ela vivia e pensava predominantemente como convívio social -, que sempre se abriu aos membros da sua família e às pessoas com quem conviveu e se relacionou na aceitação de um código de normas sociais que dignificam a inteligência, a educação e o bom gosto dos mais bem formados moralmente, realizou um importante exame de consciência ao estilo de vida, e aos valores que o norteavam, de finais do séc. XVIII (...) e às suas possibilidades humanas. (...)
Mas Jane Austen, herdeira da cultura setecentista, foi capaz de dramatizar o estilo de vida de uma classe cuja educação é espelho e prova das preocupações morais dessa cultura, reveladas na relação complexa da personagem principal com as figuras secundárias e com a narradora, disciplinou experiências narrativas anteriores, libertando-as da convenção epistolar, por um lado, e da "largueza de espírito" que é indiferença moral ou mediocridade humana, por outro; (...) Jane Austen ensinou o que é um romance relevante como obra de arte e como exame de consciência de uma classe e de uma cultura realizado em inteligente maturidade de apreciação (...)
Os romancistas, homens e mulheres, do séc. XVIII valem apenas em Jane Austen, que com eles aprendeu a contar melhor do que eles jamais souberam (...) Olhando para Jane Austen (...) a sua criação pode definir-se em termos de inovação e de renovação: de inovação, porque encontrou o romance como forma de entretenimento, menor, irrelevante, simples processo narrativo com um propósito para o qual é subsidiário, e fez dele um poema dramático; de renovação, porque trouxe, pelo romance, à literatura inglesa a qualidade Shakesperiana de profunda relevância para a vida em criações de experiências humanas em que a vida é respeitada em complexidade (...) e em maturidade, sem ser subordinada a uma pregação ou propaganda (...)
A sua (Jane Austen) grandeza é esta: ter criado o romance inglês moderno, ter sido a sua inteligência moral criadora de arte narrativa a fonte exemplar de que todos os grandes romancistas beberam a verdade do romance como forma superior de literatura e de vida. (...) Não me impedem de caracterizar os romances de Jane Austen nas suas novidades absolutas: a complexidade da personagem principal, a actuação irónica da narradora e o enredo dramatizado. (...)
O enredo Austeniano é assumido como consciência de um estilo de vida, adensado num drama de valores e resolvido em comédia. A resolução em comédia não significa nem uma simplificação de problemas nem uma cegueira para os conflitos das personagens; (...) o leitor pressente que as personagens não são forçadas a suportar os conflitos até aos seus limites humanos, e por isso podem ser felizes; a comédia de Jane Austen é um dado do optimismo radical da cultura setecentista, um elemento de verdade na sua obra. Por ela sabemos da verdade dos conflitos - e por nunca estarem ausentes os perigos de infelicidade ou de tragédia pessoal numa opção irreversível - e da sinceridade das protagonistas que os vivem e sofrem, e que têm a fortuna de sair vitoriosas deles porque a inteligência humana pode triunfar sobre todos os dilemas. (...)"