Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

O estatuto especial de Emma em Hartfield

Começo por comentar o artigo anterior, aqui apresentado pela Vera, com o qual concordo inteiramente, pois Emma é mesmo a heroína que nunca vai a lugar nenhum!

 

Nos últimos dias, voltei a reler a obra “Emma” em busca de pistas ou ideias que me pudessem elucidar sobre a ausência de interesse da jovem Emma pelas saídas prolongadas ou mesmo da razão pela qual ela parece estar sempre tão feliz no seu próprio ambiente. Parece estranho que uma jovem que tem uma irmã a viver em Londres não a visite nem manifeste interesse em o fazer. Ao longo da obra encontramos uma Emma expectante com as visitas e as estadias em Hartfield da família de Londres, da irmã, do cunhado, ou mesmo apenas dos dois sobrinhos mais velhos, Emma que aguarda ansiosamente a chegada de Mr. Knightkley regressado de uns dias passados em Londres em casa dos mesmos familiares comuns (na praça de Brunswick) e das notícias sobre todos, especialmente das crianças, e ainda a Emma que envia a amiga Harriet Smith durante semanas para a casa de sua irmã em Londres para a fazer esquecer a última paixão!

 

Não podemos esquecer que no final do século XVIII, início do XIX, as viagens eram morosas, lentas e incómodas, mesmo para quem tinha a sorte de possuir carruagem. Talvez Emma não se sentisse muito bem em viagens mais prolongadas e não o quisesse de todo reconhecer. No entanto, encontramos na obra uma personagem, Frank Churchill,  que viaja muito e que vai a Londres para voltar no mesmo dia, vinte e cinco quilómetros para cada lado, o que nesse tempo seria significativo. As deambulações de Frank Churchill não parecem interessar Emma por aí além, pois esta associa-as muitas vezes a uma certa leviandade e inconstância por parte do rapaz.

 

No capítulo XII encontra-se uma ligeira referência a uma certa vontade de viajar (embora não concretizada) por parte de Emma, quando se fala no mar e na estadia da irmã, do cunhado e dos sobrinhos à beira-mar, e onde Mr. Woodhouse contesta o benefício dessas estadias para a saúde, Emma confessa: “Peço-lhes que não falem do mar! Fazem-me inveja e tristeza, eu, que nunca o vi!” As razões pelas quais Emma nunca viu o mar podem ser diversas mas também inexplicáveis: a proteção e a dependência do pai, alguma imobilidade da sua parte para manifestar esses desejos, afinal podia sempre ter-se juntado à irmã e ao cunhado para passar a temporada no mar junto deles.

 

Na obra perpassa a ideia que Emma se sente perfeitamente bem no seu ambiente natural e que esse ambiente é Hartfield. A sua ligação ao pai, o carinho e a paciência com que o trata, mesmo quando as doenças imaginárias de Mr. Woodhouse o parecem tornar demasiado hipocondríaco e impossível de aturar, para Emma, tudo isso é aceite com um sorriso calmo e benevolente.

 

A ideia geral que Emma me transmite é que a sua ligação a Hartfield está associada ao seu estatuto especial de que goza ali e apenas ali naquele lugar. Se Emma fosse para outro lugar qualquer, perderia aquele estatuto de princesinha, de pessoa especial e respeitada, e seria mais uma jovem entre tantas outras. Essa é a impressão que tenho em geral, através da leitura da obra: Emma move-se muito bem naquela localidade onde é acarinhada e tratada de forma muito especial por todas as pessoas. A irritante Mrs. Elton (que é de facto irritante para todos nós) é-o particularmente para Emma, porque desafia o seu lugar, porque se coloca em primeiro lugar e ignora o estatuto de Emma (até mesmo no fim da obra, quando se sabe do casamento entre ela e Mr. Knightley, Mrs. Elton continua a afirmar que foi Emma quem caçou um bom partido, recusando-lhe mais uma vez o estatuto especial de que a jovem goza desde sempre).

 

Todo o percurso de Emma, as suas aproximações a Harriet Smith, vão no intuito de a valorizar com a sua influência e de a levar a procurar melhor partido do que o apaixonado Mr. Martin, embora no fim Emma reconsidere e fique mais consciente e mais humana, mesmo assim, sempre no seu pedestal. A inimizade incompreensível de Emma para com Jane Fairfax deve-se possivelmente a esse brilho que a primeira quer ter sempre e a segunda também manifesta, talvez em maior grau, pois como a própria Emma reconhece, Jane suplanta-a na música e na sua aprimorada execução.

 

Em suma, é sempre enriquecedor reler Emma! As estratificações sociais rígidas e os preconceitos nas sociedades rurais inglesas do início do século XIX são aqui bem apresentadas em todas estas personagens.

Não é pelo facto de achar que Emma é muito mimada e se julga muito especial durante grande parte do romance, que gosto menos dela! Emma é de facto uma figura encantadora e representa muito bem a sociedade rural que personifica, identificando-se tanto com Hartfield, o que a torna especial e única como ela própria gostaria de se reconhecer.

 

Hartfield

E como o tema é: Os lugares em Emma, resolvi fazer uma pesquisa e encontrei a seguinte informação para Hartfield:

 

Hartfield é uma freguesia em East Sussex , Inglaterra . Assentamentos na freguesia incluem a vila de Hartfield, Colemans Hatch, Hammerwood e Holtye, no extremo norte da Floresta de Ashdown .

 

Hartfield é a vila principal da freguesia. A igreja é dedicada à Virgem Maria. Há três casas públicas: Anchor Inn; Gallipot Inn e Haywagon Inn. A rua da aldeia é estreita, impedindo o estacionamento, embora a âncora e a Pousada Haywagon tenham parques de estacionamento privado para clientes.

 

Cotchford Farm, em Hartfield foi a casa de AA Milne (1882-1956), autor dos livros Winnie the Pooh. Mais tarde, foi possuído por Brian Jones guitarrista e fundador da The Rolling Stones , que foi encontrado morto na piscina em 1969. 

 

Há uma loja na vila dedicada a todas as coisas relacionadas com o Ursinho Pooh das histórias.

 

Acredita-se que Henry VIII habitou Castelo Bolebroke, localizado a uma curta distância da aldeia, que utilizava na época de caça aos javalis e veados, na floresta Ashdown. Também se acredita que cortejou Anne Boleyn deste castelo.

 

Hartfield tinha uma estação ferroviária que foi fechada em 1967. A maioria dos ex-trackbed agora faz parte do Caminho Florestal e da Rota do Ciclo Nacional e é muito utilizada por caminhantes e ciclistas.

O edificio da estação em si é agora utilizada como uma pré-escola. Existe um serviço de transporte publico (autocarro/camioneta) que liga a aldeia com Crawley, Grinstead Oriente e Tunbridge Wells.

 

Há uma série de empresas na aldeia."

 

 

Então? será que Emma ía gostar de viver na Hartfield de hoje?

Emma, a heroína que nunca vai a lugar nenhum

Todas as heroínas de Jane Austen, num momento do livro passam uma temporada fora de casa. As irmãs Dashwood visitam Londres na companhia da Mrs. Jennings e na volta para casa passam algumas semanas na propriedade dos Palmers, onde devido à doença de Marianne ficam mais tempo do que inicialmente previsto. Elizabeth visita os recém-casados Collins e mais tarde os tios proporcionam-lhe umas férias no Derbyshire, a sua irmã Jane passa algum tempo em Londres e Lydia vai para Brighton com os Forsters. Catherine acompanha os Allen a Bath e Anne Elliot antes de se mudar definitivamente para esta cidade passa algum tempo com a sua irmã Mary. Até mesmo a heroína mais pobre dos livros de Jane, Fanny Price, visita a sua família com quem fica durante alguns meses.

Emma é a única que nunca vai a lado nenhum, sim há o passeio a Box Hill, mas é somente um passeio que dura algumas horas e permite o regresso a casa no mesmo dia. Emma nunca vai passar algumas semanas com a irmã a Londres ou visitar qualquer outro lugar como Bath.

Sobre o ponto de vista narrativo Emma é um romance fechado todos os personagens que conhecemos no inicio estão lá no fim, não existe uma alteração significativa, o livro funciona como um circulo fechado. Noutras obras vão nos sendo apresentadas novas personagens, em Emma isso não acontece. Harriet Smith é introduzida no círculo de Emma, mas ela já vivia há algum tempo em Highbury e o mesmo é válido para Jane Fairfax e Frank Churchill, embora ausentes durante uma parte da obra estão presentes pelas várias menções que lhes são feitas. A única personagem realmente nova que conhecemos, a a Mrs. Elton, mas a sua presença é irrelevante excepto para irritar Emma e o leitor com toda a sua maneira de ser.

 

O curioso desta constatação é que Emma é de todas as heroínas a que mais teria possibilidades de viajar já que era a mais rica. Os motivos para a ausência de alguma viagem são facilmente explicados pelo pai que acha que ir ao jardim já pode causar uma constipação que o vai matar. Emma não pode e também não quer deixar o pai e por isso permanece em casa.

No entanto uma melhor explicação pode estar algures na sua correspondência de Jane Austen onde afirmou que o seu trabalho incidia sobre três ou quatro famílias da sociedade rural. Talvez por isso em Emma levou tal afirmou a sério e criou um leque pequeno de personagens e um espaço confinado que nunca é alterado ao longo do livro, mesmo quando Emma encontra o amor ela encontra-o em alguém que conheceu toda a sua vida.

No fundo é como Jane Austen tivesse decidido brincar com um cenário fixo e nele movimentar um conjunto de personagens.

 

Será Emma enquanto personagem limitada por esta falta de conhecimento do outros espaços que não Highbury? Pessoalmente acho que não e Emma seria a mesma pessoa ainda que tivesse feito a volta ao mundo. Na obra de Jane não observamos mudanças significativas nos personagens pela lugares que visitam. Por exemplo, Elizabeth Bennet descobre durante a sua estadia no Kent que Darcy está apaixonado por ela, que Wickham é um patife e a forma como Jane e Bingley foram separados. Mas a sua maneira de ser continua a mesma. Penso que Jane não via nas mudanças de ares uma forma de mudar o personagem ou até de corrompê-lo. Em algumas obras de outros autores observamos isso, um exemplo típico é o jovem mais inocente que ao vir para a cidade, após uma vida no campo é corrompido pela vida citadina.

Julgo que Jane Austen acreditava na mudança de opiniões quando a pessoa é exposta à verdade, como acontece com Elizabeth Bennet mas nunca a de mudança/ reforma da personalidade do qual Henry Crawford é um bom exemplo.

 

Todos estes factos e análises levam-me a pensar que Emma seria exactamente igual quer tivesse passado temporadas em Londres ou noutro sítio qualquer, embora a aí talvez tendo à sua disposição mais divertimentos e ocupações ela não estaria tão preocupada em arranjar casamentos ou talvez fosse mais aliciante para ela fazer isso uma vez que existiam mais homens e mulheres livres!!

 

Squerryes Court

 

Squerryes Court é o cenário de Hartfield na adaptação “Emma” da BBC de 2009 com Romola Garai no papel da nossa heroína.

 

Squerryes em Westerham no Kent em Inglaterra, é uma casa senhorial do séc. 17, sendo a residência da família Warde desde 1731.

A Casa e o Jardim estarão abertos ao público de Abril até Setembro de 2012.

 

No local de construção da casa atual esteve, por mais de 800 anos uma casa de matriz medieval que foi demolida em 1681, propriedade da família Squerie.

 

A casa atual, construída por Sir Nicholas Crispe, foi vendida em 1700 a Edward Villiers e só em 1731 passa para a família Warde, que a mantém na atualidade.

 

Squerryes Court segue a traça do estilo Georgiano.

 

As salas usadas e mobiladas ao longo de 200 anos pela família Warde são do maior interesse. Aí podemos encontrar uma coleção de pinturas do séc. 17 das escolas Italianas, Alemãs e Inglesas.

 

Os jardins de Squerryes Court cobrem cerca de 4 hectares incluindo um pombal e um lago.

 

As filmagens de “Emma” - BBC 2009, exteriores e interiores decorreram nesta casa.

As divisões utilizadas nas gravações incluíram o “Quarto Chinês” (talvez daí a piada inicial na adaptação a propósito de Mr. Knightley ir ensinar chinês a Emma!?), um dos quartos dos empregados, a entrada, e a “Sala Verde”, que foi pintada de azul turquesa paras as filmagens, e os jardins.

 

Em 2009, Squerryes Court albergou uma exibição acerca de Jane Austen, a sua associação com Kent, fotografias das filmagens da mais recente adaptação de “Emma” e do guarda-roupa.

 

 

 

 

 

 

 

A Hartfield Portuguesa

E se Jane Austen tivesse sido portuguesa? E se a ação do romance “Ema” se tivesse passado numa das muitas vilas ou aldeias portuguesas?

Pois bem, se Jane tivesse sido Joana, Hartifield uma mansão em Portugal e algum realizador desejasse adaptar “Ema” para o ecrã, o local ideal para servir de cenário para a residência de Ema e Henrique, o pai, seria, em meu entender, o Palácio de Estoi, hoje recuperado enquanto Pousada de Portugal.

 

A escolha não foi aleatória, foi até bastante saudosista. Um irmão meu morou nesta aldeia algarvia chamada Estoi… não me perguntem ao certo como se lê… há quem lhe chame “Estói” e há quem lhe chame “Estôi” - passei lá o Verão de 2005 inteirinho e nunca cheguei a conclusão nenhuma!

 

Nesse verão que lá passei o então Palácio de Estoi estava vetado ao abandono (vejam a imagem da página seguinte). Passei lá algumas tardes a “invadir” propriedade alheia, é um facto, e a trazer limões de um limoeiro que não me pertencia, mas nunca ninguém se importou, nem ninguém se parecia importar com a beleza daquele edifício repleto de ervas e trepadeiras por tudo quanto era sítio.

Na altura ainda não era fã de Jane Austen e nunca me passou pela cabeça que pudesse um dia associar Estoi a Emma Woodhouse, mas hoje, nada me parece mais certo! E é com extrema facilidade que coloco Emma neste cenário.

 

Não consegui encontrar nenhuma referência, mas tenho ideia que a recuperação do Palácio começou a ser feita um ano ou dois depois de eu lá ter passado as minhas Vérias Grandes e ficou concluída em 2008.

 

Atualmente, o Palácio de Estoi é um hotel de luxo que integra as Pousadas de Portugal.

 

O Palácio de Estoi, localizado a cerca de 10km de Faro, data do séc. XIX e é um exemplar do estilo rococó em Portugal. Também conhecido como Palácio do Carvalhal. O Palácio foi mandado construir por Fernando Carvalhal de Vasconcelos, um fidalgo da Corte em 1840, “altura em que já existiam neste local os jardins e uma pequena residência, conjunto que pertencia ao bispo de Faro”, todavia, não concluiu a obra em virtude da sua morte. O Palácio foi depois vendido a José Francisco da Silva, farmacêutico de profissão, que concluiu as obras, ficando o Palácio totalmente pronto em 1909 - pelos esforços demonstrados na recuperação do Palácio, José Francisco da Silva foi intitulado Visconde de Estoi pelo Rei D. Carlos I. O trabalho foi dirigido pelo arquiteto Domingos da Silva Meira. Em 1987 o Palácio foi comprado pela Câmara Municipal de Faro e em 1977 tinha sido classificado como Imóvel de interesse público.

 

“O interior do palácio é extremamente detalhado e está elaborado àbase de estuque e pastel. No jardim é possível ver as palmeiras e as laranjeiras, que se enquadram perfeitamente com o ambiente rococó do palácio.

No terraço inferior é possível ver um pavilhão com azulejos azuis e brancos, denominado a Casa da Cascata, e no seu interior está uma cópia das Três Graças, de Canova” (historiadeportugal.info).

 

“O corpo do seu principal salão é avançado em relação ao resto do edifício e apresenta decoração inspirada no estilo Luís XV.

O palácio compreende vinte e três salas e cinco anexos: torre sineira, torre de acesso às coberturas, depósito de água e duas casas de fresco.

O palácio é antecedido por três patamares ou socalcos ajardinados, preenchidos com diversos alojamentos: dois Pavilhões de Chá (com frescos no tecto), a Casa do Presépio e a Casa da Cascata. Esta axialidade é acentuada pelo arruamento principal, o qual se desenvolve a partir de uma portada monumental.

 

As divisões interiores do palácio apresentam formas quadradas e rectangulares, estando interligadas por corredores estreitos e compridos, embora a maior parte dos aposentos comuniquem entre si. As salas são decoradas ao estilo Luís XV, Renascença e Barroco, salientando-se a ornamentação interior das seguintes salas de aparato: Capela, Salão Nobre, Sala de Visitas, Sala de Jantar, Saleta, Vestíbulo ou entrada pelo Jardim do Carrascal, dois Pavilhões de Chá, Casa do Presépio e Casa da Cascata. Parte do mobiliário e algumas pinturas de cavalete ou murais são italianos. (e-cultura.sapo.pt)

 

Aos obras de recuperação concluídas em 200 foram da responsabilidade do Arquitecto Gonçalo Byrne. Em 2009, o Palácio de Estoi - Pousada de Portugal abriu as portas ao público. 

 

Digam lá se Emma Woodhouse não encaixava neste Palácio que nem uma luva!

 

 

 

Outros Box Hill

A título de curiosidade deixo aqui outros locais que se chamam Box Hill, mas que não são aquele que aparece referenciado na obra:

 

 

O local representado na obra é no Surrey, a segunda opção

 

 

( retirado da Wikipedia)

Os Cenários de Donwell 1996 BBC

Trago-vos hoje a história dos locais de filmagem de Donwell Abbey na adaptação para o ecrã de Emma, em 1996 com Kate Beckinsale.
As cenas filmadas em Donwell tiveram como cenário, três locais diferentes: Salão de Donwell Abbey (Great Hall), foi filmada em Broughton Castle, Banbury, Oxfordshire, England, UK. Os Exteriores de Donwell Abbey, em Sudeley Castle, Sudeley, Gloucestershire, England, UK. E Donwell Abbey,  foi filmada em Stanway House, Stow-on-the-Wold, Gloucestershire, England, UK.
É destes três locais que me vou ocupar, falando-vos da história destas casas que não são nenhumas estreantes no que respeita a castings!

 

É muito curioso, ao fazer a pesquisa para este artigo, dei de caras com casas particulares, porque é disso que se trata - todas estas mansões são atualmente habitadas ainda por descendentes dos proprietários originais. Não obstante, todas elas estão abertas ao público para visitas, um pouco à semelhança da visita de Lizzie com os tios a Pemberley. Atualmente esse tipo de turismo mantém-se em Inglaterra, sendo deveras interessante. Em Portugal julgo não haver sequer essa tradição, embora tenhamos igualmente casas e propriedades de tal splendor - esse tipo de casas já não é, maioritariamente, habitado, menos ainda por descendentes da família que a criou ou lhe deu história. Temos de ter em conta que Inglaterra mantém uma Monarquia e todos os títulos que daí advêm, pemritindo que, ainda que “falidos”, os Barões, Condes e Sirs, mantenham as propriedades de família… embora hoje em dia recorram a uma espécie de casa-museu, tirando receitas da sua própria história. Imagino que só habitem uma parte da casa que não estará, certamente, aberta ao público.

Cá em Portugal, este tipo de casas estará atualmente ou abandonadas, fechadas à espera de partilhas de heranças, a servir de hotéis de charme—há um turismo crescente de hotéis-solares muito interessante - ou pura e simplesmente como casas-museu. 

 

Broughton Castle

 


O Castelo de Broughton é uma casa senhorial do período medieval localizada na aldeia de Broughton que está a cerca de 3 km do sudoeste de Banbury em Oxfordshire, Inglaterra. Foi construída em 1300 d.C. mas só em 1550 adquiriu os traços estilísticos da Era Tudor.

Está localizado numa espécie de “ilha” pois está rodeado por cerca de 3 acres com um fosso para proteger a Fortaleza.

No século 17, este local teve um papel importante pois foi a “sede secreta” para os oponentes do rei Carlos que pretendia governar sem o Parlamento.

Pertence à família Fiennes desde 1451, com quem se mantém até hoje e na qual reside um dos descendentes.

No filme “Emma” de 1996 da BBC, o Castelo de Broughton serviu como cenário para o interior de Donwell Abbey. Mas não se julgue que esta foi a sua estreia! Já serviu de cenário para filmes como a mais recente adaptação de “Jane Eyre” (2011), “A Paixão de Shakespeare” (1998), “Padrinho... Mas Pouco” (2008), “The Scarlet Pimpernel” (1982), “The Virgin Queen” (2005), entre outros.

 

Broughton Castle está aberto ao público, podendo este usufruir de uma visita à Entrada, aos jardins e parque, à Igreja St. Mary’s, ao Salão, à Galeria, ao “Quarto do Rei”, ao “Quarto da Rainha Anne”, Sala do Conselho [dos opositores], Sala de Jantar, Sala de Carvalho, Capela e à Grande Sala de Estar.

 

 

Todas as informações disponíveis em: broughtoncastle.com

 

Como já disse, o “Great Hall” de Emma 1996 da BBC foi filmado nesta propriedade. O Salão mantém a traça medieval original que remonta a 1300. No filme, vemos o interior do Salão de Broughton Castle durante a cena final dos festejos do casamento de Mr. Knightley e Emma.

 

Sudeley Castle

 


O Castelo de Sudeley está localizado perto de Winchcombe em Gloucestershire, Inglaterra. A estrutura atual foi construída no século 15 pelo Barão Sudeley com a fortuna que tinha criado durante a Guerra dos Cem Anos e acredita-se que foi feita a partir de uma ruína de um castelo que data do século 12. Na sua capela podemos encontrar o túmulo de uma das mulheres do rei Henrique VIII, Catherine Parr (a sexta e última mulher) que esteve perdido durante alguns anos por causa da Guerra Civil.

 

Há, em relação a ela, uma história curiosa – Catherine Parr, depois da morte do rei, contraiu novo casamento com o Barão de Sudeley de quem teve uma filha. Veio, contudo, a falecer aos 35 anos poucos dias depois de dar à luz a pequena Mary. Segundo alguns, o Castelo está assombrado por ela, que vagueia pelos corredores e jardins do Castelo. Por curiosidade, a filha, que depois da morte da mãe foi abandonada pelo pai, foi criada por uma amiga da mãe, chamada Catherine Willoughby (quem sabe... uma ascendente de John Willoughby!). Este ano, celebra-se o 500º aniversário do nascimento de Catherine Parr e muitos são os projetos a decorrer no Castelo.

 

O castelo de Sudeley é dos poucos em Inglaterra que se mantêm como residência e por isso, embora com visitas ao público estas são feitas em datas específicas resguardando algumas divisões da casa. Podemos encontrar mais informações em www.sudeleycastle.co.uk

Serviu de cenário a outras adaptações conhecidas, uma delas muito recente, tess of D’Urbervilles de 2008.

 

Em Emma 1996 da BBC, este castelo de Sudeley serviu como cenário para o exterior de Donwell e podemos vê-lo durante a cena da visita a Donwell Abbey com a apanha de morangos!

 

Stanway House

 

 

Stanway é um exemplar perfeito de uma casa senhorial da época de Jaime I. Graças à sua localização, no cimo de uma encosta, Stanway tem sido protegida das mudanças do século 20.

Stanway House é notável pela sua delicada e pacífica atmosfera, gerada pela sua “idade”, pois a sua construção terminou na década anterior à Guerra Civil, pela sua estrutura de pedra, pela sua arquitetura, pela sua mobília e pela sua localização.  O seu interior dá a impressão de se estar a viver dentro de um museu.

 

Foi cenário em “A Feira das Vaidades” (2004), The Buccaneer (1995), entre outros. Em Emma 1996 da BBC podemos encontrá-la como cenário, julgo eu, no final do filme, quando Mr. e Mrs. Elton chegam a Donwell Abbey para os festejos do casamento de Mr. Knightley e Emma. 

 

A Abadia de Donwell

 

Este podia ser o título de uma aventura com a nossa intrépida Miss Morland, mas não, nem creio que haja qualquer história fantasmagórica para contar acerca de Donwell Abbey... Mas quiçá, não esteja aqui um bom mote para uma das nossas próximas ficções aqui no Jane Austen Portugal!

 

Donwell Abbey é a distinta propriedade de Mr. George Knightley em “Emma”. Vou esforçar-me por fazer uma visita guiada a esta casa que terá sido o lar de Mrs. e Mr. Knightley depois da morte de Mr. Woodhouse.

 

A primeira referência a Donwell Abbey é feita no Capítulo III, Vol. I (aviso que a tradução é feita por mim do original):

 

"Felizmente para ele [Mr. Woodhouse], Highbury incluia Randalls na mesma paróquia e Donwell Abbey na paróquia adjacente, propriedade de Mr. Knightley. "

 

Mas tal referência pouco ou nada acrescenta ao que aqui já foi dito. É pelos pensamentos interesseiros de Mr. Elton, que magicava um possível relacionamento com Emma, que conhecemos um pouco mais sobre as suas vantagens patrimoniais, digamos assim, no Capítulo XVI, Vol. I:

 

"A área de propriedade de Hartfield era irrelevante, pois mais não era do que um pequeno entalhe na propriedade de Donwell Abbey, à qual a restante Highbury pertencia."

 

Deste trecho ficamos a perceber que em termos de vastidão de propriedade, Donwell Abbey não tinha rival em Highbury. Tal significa que Mr. Knightley era um grande proprietário na altura, tanto ou mais que Mr. Darcy em Orgulho e Preconceito. E é prova disso o trecho que coloco em seguida, retirado do Capítulo XII, Vol.I, a propósito da altura em que John Knightley vem de visita a Hughbury e Jane Austen nos congratula com a amizade entre irmãos:

 

"Enquanto rendeiro (...) tinha de lhe contar [a J. Knightley] acerca do que cada parcela de terra iria produzir no próximo ano, e dar-lhe toda a informação possível que seria do interesse do irmão, cujo lar em Donwell tinham partilhado durante muitos anos e pelo qual tinham ambos fortes ligações. O plano para uma drenagem, a mudança de uma vedação, a queda de uma árvore e o destino de cada acre de trigo, de nabos ou milho."

 

Sendo vizinho de Hartfield, sabemos que visitava várias vezes Mr. e Miss Woodhouse, quase sempre a pé. Isso sempre me fez achar que eram propriedades muito próximas. Mas Jane Austen desvenda o mistério logo no Capítulo I do Vol. I:

 

"Ele [Mr. Knightley] vivia a cerca de 1,5 km de Highbury."

 

Não é uma grande distância, é certo, mas indica que Mr. Knightley não tinha medo de uma boa caminhada! O que me faz acreditar que o Mr. Knightley idealizado por Jane Austen era, com os seus quase quarenta anos (já pareço Marianne Dashwood a falar!) um homem de exercício.

Não deixa de ser excepcional que Mr. Knightley, com todas as vantagens que possuía, uma vez que era um grande proprietário, culto, de alta posição e, interessante a todos os níveis, não fosse ainda casado e a propriedade estivesse destinada ao sobrinho, Henry (de acordo com as palavras de Emma). É então de supor que Donwell Abbey embora, não sendo assombrada, fosse uma casa vazia, tendo por único ocupante um homem solteiro. E nesse sentido escreve também Jane Austen, depois de uma pequena quezília com Emma a respeito do jogo de palavras que implicava Emma, Jane Fairfax e Frank Churchill:

 

"Pouco depois saiu rapidamente e foi para casa, para a frieza e solidão de Donwell Abbey."

 

Mas é no Capítulo VII do Vol. III que ficamos a conhecer Donwell Abbey pois Jane Austen proporciona-nos um delicioso rol de descrições sobre esta casa:

 

"Enquanto olhava para o tamanho e estilo respeitável da casa, era adequado, próprio, com condições características, pouco elevada e abrigada. Os seus jardins amplos estendiam-se ao longo do prado, regados por um ribeiro do qual a Abadia, com todo o abandono que o tempo produz, mal tinha um vislumbre. [A Abadia] Tinha muita abundância de árvores em fileiras e avenidas, que nem a moda nem as extravagências haviam destruído. A casa era maior que Hartfield e totalmente diferente, cobria um enorme pedaço de terreno, cheia de corredores e recantos irregulares, tinha várias divisões maioritariamente confortáveis e uma ou duas salas bonitas. No fundo, era tudo o que deveria ser, e parecia aquilo que era – e Emma sentiu um crescente respeito por ela, enquanto residência de uma família de verdadeira distinção."

 

"Depois de passearem durante algum tempo nos jardins (...) seguiram (...) para a deliciosa sombra de uma larga avenida de limeiras, que se estendia para além do jardim, a igual distância do rio (...), não levava a nada. A nada mais do que a uma paisagem que se podia apreciar debaixo de uma construção de pedra com altos pilares, cuja intenção parecia (...) dar a sensação de chegar a uma casa que nunca esteve lá. (...) Era em sim um agradável passeio, e a vista com que terminava era extremamente bonita. A considerável encosta, quase ao fundo do terreno onde a Abadia estava, adquiria gradualmente uma forma de vaso (...) e, a cerca de meia milha de distância estava uma rampa de considerável declive e grandeza, bem revestida com árvores e ao fundo desta rampa, favoravelmente localizada e abrigada, erguia-se Abbey Mill Farm (...). Era uma deliciosa paisagem – deliciosa para o olhar e para o pensamento. Verdura inglesa, cultura inglesa, conforto inglês, visto debaixo de um sol radioso sem se tornar opressivo. (...)"

 

Julgo que ninguém ficará indiferente a tal descrição. Penso que fiquei igualmente arrebatada com Donwell Abbey tal como com Pemberley. Aliás, através deste artigo, começo a encontrar diversas semelhanças entre Darcy e Knightley, se bem que o último tem um sentido de humor bem mais cativante, ou talvez seja só eu, pois sou suspeita, uma vez que tenho Knightley em maior preferência que Darcy.

 

Assim, Dowell, uma extensa propriedade, com uma enorme casa, ocupada por um solitário individuo seria, muito embora bela e imponente, uma casa com demasiadas divisões vazias, muito ao estilo de Northanger Abbey, se bem que esta última tinha sido alvo de algumas modernizações e estivesse mobilada “à la mode”!

 

O que sobressai da descrição feita por Jane Austen são, acima de tudo, os seus jardins—pois o interior da casa devia ser bastante soturno e desinteressante. Mas os jardins, esses, são cativantes e inspiradores, propícios a todo o género de passatempo .

 

A descrição feita da larga avenida rodeada de árvores as quais não tinham sido destruídas por nenhum ímpeto de moda ou extravagância, fazem-me recordar do famoso passeio à casa de Mr. Rushworth, em Mansfield Park, onde sabemos que um dos projetos será arrancar todas as árvores que circundam a avenida pois essa era então a moda do tempo. E se bem me recordo, Fanny Price fica muito surpreendida pois não entende como é que uma casa pode ficar mais bonita depois de destituída de tão frondosas árvores. Enfim, sabemos então que Mr. Knightley era um homem de bom gosto e sem qualquer pretensão de “estar na moda”.

 

Algo que também sabemos é que a Abadia de Donwell é famosa pelas suas macieiras e morangueiros, um pouco, se bem se lembram, à semelhança da propriedade do Coronel Brandon, famosa pelos seus pessegueiros!

 

Sabemos isto através de Miss Bates que caracteriza as maçãs de Donwell :

 

"As maçãs são das melhores para assar (…) vieram de Donwell ."

 

Quanto aos morangueiros, percebe-se claramente através do passeio feito a Donwell onde um dos passatempos foi precisamente o de apanhar morangos.

 

"Donwell era famosa pelos seus morangueiros."

 

Não sei quanto a vocês, mas eu cá não me importava nada de viver num sítio como Donwell Abbey, embora tivesse obrigatorimente de acrescentar mais elementos à família para preencher mais espaço e é isso que espero que Emma e Knightley tenham feito!