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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Shortstory – parte 57

Nas semanas que se seguiram ao nascimento dos gémeos de Lizzie e Darcy, Pemberley encheu-se de visitas, de cor de luz e de alegria. Já não fazia tanto frio e as flores apareciam já timidamente antecipando a chegada de uma primavera que se adivinhava muito movimentada.

 

Jane e Charles Bingley chegaram na sua carruagem cheios de presentes para os gémeos e, para espanto de Lizzie que de nada soubera até à chegada da carta da irmã, algumas semanas antes, a barriga de Jane era já visível. Os recém-nascidos cresciam e alimentavam-se de forma saudável, sob a vigilância cerrada de duas amas, das criadas de quarto e da própria Lizzie, que passava grande parte dos dias junto dos filhos.

 

Darcy realizara uma promessa que a si próprio se impusera tempos atrás e que consistia na secagem de alguns dos lagos de Pemberley e na cuidadosa construção de muros e de sistemas de segurança para os restantes que não secara, de forma a que jamais se voltassem a dar acidentes. Quer Fitzwilliam quer Lizzie sabiam que estes filhos haveriam de viver rodeados de cuidados e de vigilância, mesmo que fosse preciso contratar mais criados. Ainda assim, tinham consciência que por mais cuidados e fortuna que tivessem, a fragilidade dos fios que prendiam os seres humanos à vida era de natureza tão volátil que de nada adiantavam os cuidados quando as coisas tinham mesmo de ocorrer.

Fosse como fosse, as crianças tinham de ter liberdade e de crescer sem sentir a todo o momento que eram prisioneiras de um acidente que ocorrera muito antes dos seus nascimentos. Por isso eram tão importantes os momentos presentes e a felicidade de cada dia que passava.

Por agora, estavam todos juntos e até Mr. e Mrs. Bennet tinham vindo conhecer os netos e alegrarem-se com a alegria de ambos estarem vivos e de boa saúde. Mrs Benet não era grande companhia mas com a casa cheia de gente mal se notavam as suas observações extemporâneas.

 

Georgiana andava nas nuvens, feliz com a presença de William Price, Fanny e Edmond. Fanny e Edmond já não disfarçavam a comunhão de pensamentos e de ideias que os uniam e a própria Georgiana estranhava que não falassem ainda em casamento – mais um! Quanto a William Price, trouxera a novidade da sua promoção inusitada, pois era agora comandante de uma fragata. O sucesso da carreira de William Price devia-se sem dúvida ao seu carácter laborioso e combativo mas também tinha muito a ver com os cordelinhos que o tio, Sir Thomas Bertram, movera a seu favor. E assim, recém- promovido e muito apaixonado, William Price fez a sua proposta a uma Georgiana também apaixonada, naquela visita a Pemberley.

 

Georgiana ficou muito feliz com a proposta de casamento, pois desde que o conhecera que se sentia muito atraída por aquele jovem tão responsável e diligente. Atormentava-a a perspetiva da vida que ele levaria no mar e o facto de terem de ficar separados, já que ele em breve teria de embarcar. Mas surpreendentemente, a proposta de William também a contemplava a ela, já que, a par do sucedido com o Almirante e Mrs Croft, que sempre haviam viajado juntos pelo mundo, também William pretendia fazer-se acompanhar da sua amada, isto na caso de ela também estar de acordo, claro está.

 

A cabeça de Georgiana então começou a andar à roda e ela, sempre tão pacífica e caseira, que mal se ausentava de Pemberley e poucas temporadas passava em Londres ou em Bath, deu por si a sonhar com o mundo exótico e distante, aquele universo de que falava Mrs Croft e que tão interessantes tornavam as suas conversas. A Georgiana não desagradava de todo tal ideia em que jamais pensara até então e que agora, diante dos olhos apaixonados e da firmeza de carácter de William Price, sentia como uma possibilidade bem interessante e bem viável para a sua vida. E assim, após o primeiro embate da surpresa, deu por si a imaginar-se em alto mar, a observar as ondas bamboleantes de todos os tons de azuis e verdes, a sonhar com as terras quentes e as frutas doces de que tanto falava Mrs Croft e a aperceber-se com surpresa, como afinal, essa era a vida que desejava para si.

 

Havia no entanto um obstáculo a ultrapassar.

 

- Meu querido William – murmurou ela – receio que meu irmão não dê o seu consentimento! Ver-me viajar para tão longe dele e de minha irmã Lizzie e agora das crianças, como vai ser…

 

William ficou pensativo. Receava que Georgiana tivesse razão e a felicidade que ambos já anteviam em viagens a lugares distantes não fosse possível.

 

- Temos de falar com eles quanto antes – disse ele – Deixa-me ser eu a comunicar as nossas intenções, Georgiana…