Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Shortstory 2 - Parte 7

Numa outra rua e numa outra casa de Bath, Anne também se arranjava para o jantar dos Darcy. Lá em baixo, ouvia o burburinho dos empregados e ouvia as vozes do pai, da irmã e até de Mrs Clay, nos seus respectivos quartos. Não via necessidade de tanto alarido. Os Darcy eram um casal respeitável e rico mas nada adiantariam à situação da sua família. Todavia, entendendo a necessidade da sua família de se mover em ambientes requintados, Anne cessou os seus pensamentos sobre o assunto. O seu coração estava demasiado inquieto para se preocupar com uma família que, mais uma vez, estragara a sua possibilidade de ser feliz.

 

Acabada de se arranjar, e ainda com tempo antes do pai começar a berrar por ela, tirou o seu cofre de debaixo da cama e dele retirou a última carta do Capitão Wentworth dirigida a si. E, tal como tinha feito dezenas de vezes nos últimos dias, leu e releu o texto e não pode evitar chorar. Mas estava feito. E desta vez era definitivo. Ele não a olharia mais e não mais a respeitaria. Acabara tudo, definitivamente. O seu casamento com o primo seria celebrado no mês seguinte e a sua vida acabaria aí.

 

- Anne! - era a voz irritada do pai que a chamava lá em baixo - O teu noivo já chegou.

 

Desceu. O primo aguardava-a no fundo das escadas com um sorriso encenado na boca e recto como uma estaca, as mãos cruzadas atrás das costas.

 

- Anne! Minha querida noiva! - cumprimentou beijando-lhe a mão enluvada.

 

- Mr Elliot - ela fez uma vénia, pouco o olhando. Lá ao fundo, já na saída da casa, Mrs Clay observava-os com uma expressão algo desagradada no rosto.

 

                                                --------------------------------------------------------------------------------

 

A casa onde os Darcy estavam hospedados era igual a tantas outras que existiam em Bath, no Royal Crescent. E pouco diferente da dos Elliot, apesar de maior. A sala para onde foram encaminhados enquanto aguardavam o jantar estava luxuosamente mobilada e, por todo o lado, se viam jarras com flores delicadamente arranjadas.

 

- Que arranjos maravilhosos, Mrs Darcy - exclamou Mrs Elton, uma prima distante dos Bingley - Tem de me ensinar os seus truques. O meu querido Me E. diz sempre que eu faço uns arranjos horríveis.

 

Lizzie sorriu, tentando ser simpática apesar de não gostar daquela senhora altiva mas simultaneamente desagradável e desajeitada.

 

- Lamento não a poder ajudar, Mrs Elton. Mas as honras nesse campo vão todas para a minha cunhada, Miss Georgiana. É ela quem faz quase todos os arranjos e os que não faz, supervisiona.

 

- Oh, tenho então de lhe pedir umas dicas. A Mrs Darcy dá-me licença? Vejo a sua cunhada ali ao fundo, junto do seu marido.

 

Lizzie aquiesceu aliviada. Que mulher desagradável! No entanto, o seu alívio durou pouco tempo pois, logo que se voltou procurando um canto sossegado, avistou na entrada da sala Lady Catherine De Bourgh, a tia do marido, cuja presença não estava prevista. Atrás de si, Anne de Bourgh, enfezada como sempre, fazia-se acompanhar por um homem jovem e bonito que mais tarde soube tratar-se de John Willoughby, um homem que procurava fortuna.

 

Quando Lizzie finalmente achou o seu canto sossegado, sentiu os olhos do marido em si, como que incentivando-a a ir cumprimentar a sua tia e seus companheiros. Tentando esconder a sua contrariedade, encheu o peito de ar e ia para se dirigir a eles quando os Elliot fizeram a sua entrada na sala. Sir Walter Elliot vestia-se pomposamente e com Mrs Clay pendurada num braço e a filha mais velha no outro, observava todos como se fosse uma dádiva descida dos céus. Anne, atrás deles, vestida simplesmente e com um ar algo embaraçado, talvez por vir de braço dado com o noivo, deu imediatamente com Lizzie e a ela se dirigiu. Esta situação, impediu que a esposa de Mr Darcy fosse cumprimentar Lady Catherine de Bourgh como tencionava fazer.

 

Não demorou muito tempo até que o grupo ficasse completo. No entanto, quando o último convidade esperado chegou, todos se voltaram para apreciar e cochichar sobre o casal que entrara pois ambos formavam o par perfeito em termos estéticos. O Capitão Frederick Wentworth apresentava o seu usual rosto sério e compenetrado e apenas Anne notou que fazia um esforço enorme para não olhar para ela. Todavia, Anne não conseguia desviar os olhos deles. A sua companheira era bela, segura e sorridente, o género de mulher que ilumina e encanta uma sala.

 

- O nosso Capitão vem muito bem acompanhado - sussurrou Lizzie para Anne antes de se lhes dirigir para os cumprimentar. Infelizmente, teve a ideia de levar Anne pelo braço.

 

- Capitão Wentworth, obrigada por ter vindo - saudou-o.

 

- O prazer é todo meu, Mrs Darcy - disse fazendo duas vénias para as duas mulheres - Abusei da vossa hospitalidade e convidei uma grande amiga para me acompanhar, esta noite. Espero que não leve a mal.

 

- Claro que não. Fez muito bem.

 

Anne gelou momentaneamente, receosa do vínculo que ele daria aquela mulher. Uma grande amiga ou algo mais?

 

- Então permitam-me que lhes apresente Miss Emma Woodhouse.

 

 

(Jane Austen, PLEASE try to forgive me!)

 

1 comentário

Comentar:

Mais

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.