Shortstory 2 - Parte 6
- Lizzie - chamou Darcy.
Ela estava no toucador a arranjar o cabelo para o jantar. Já estava vestida e usava um colar de pérolas que ele lhe oferecera no seu segundo ano de matrimónio.
- Sim, Fitzwilliam - ela observou-o através do espelho, quase distraída e ele perguntou-se se ela ainda o apreciava tanto quanto ele a ela. Para ele, ela ainda era a mulher mais linda que conhecia e a única que sempre amaria.
- Sabes que te amo, não sabes? - perguntou.
Ela pareceu finalmente reparar nele. Observou-o longamente e em silêncio. Depois rodou o corpo no banco e virou-se para ele.
- Claro que sei, meu querido - levantou-se e acercou-se dele para o abraçar - E eu também te amo.
Darcy abraçou-a sem a apertar e manteve os olhos abertos como se tentasse ganhar coragem para dizer aquilo que lhe queria dizer.
- E sabes que o que aconteceu não foi culpa tua, não sabes? - conseguiu dizer.
No entanto, Elizabeth pareceu gelar e o seu corpo ficou estático ao ponto de Darcy se perguntar como conseguia ela segurar os braços ainda ao seu redor.
- Lizzie - chamou vendo que ela não reagia - Lizzie, por favor, querida! Esse comportamento não é saudável. Tens de reagir.
Ela afastou-se dele. Parecia febril, diferente e distante.
- Não sentes falta do nosso querido e doce Edward? - parecia uma criança prestes a chorar.
- Sim - exclamou ele - Muito. Nada me dói mais do que saber que o perdi. Mas, Lizzie, essa dor será maior se te perder também. Não vou suportar perder os dois.
- Mas eu estou aqui... - tentou ela dizer.
- Não, não estás - Darcy quase gritou mas no segundo seguinte controlou-se e com mais calma, disse-lhe - Não estás. Já não estás comigo, nem com a tua família. Estás contigo! Nesse teu mundo de culpa e sofrimento onde mais ninguém entra. E eu preciso que saias daí - pediu - Ou então que me deixes entrar para que te possa ajudar.
- Consegues trazer Edward de volta?
Darcy não respondeu. Impávido mas profundamente assustado com as reacções da esposa, respondeu com tristeza:
- Sabes que não.
- Então não vale a pena entrares no meu mundo ou eu sair dele. Eu preciso de estar com ele. Com Edward. Sou a sua mãe. Ele precisa de mim.
O marido suspirou fortemente e vendo-a sentar-se novamente no banco, ajoelhou-se frente a ela.
- Lizzie, não vês que isso é loucura? Por favor, deixa-me ajudar-te. Deixa-nos ajudar-te - acrescentou - Estão todos preocupados contigo. Até a Lydia me escreveu, aflita por tua causa.
- A Lydia devia pensar mais na vida dela e menos na dos outros. Era assim que ela era antes de casar com Wickham. Egoísta. Devia ter continuado assim. E nesses todos não deves estar a incluir a emproada da tua tia que faz os possíveis por me culpar do que aconteceu.
- A minha tia não sabe nada daquilo que aconteceu. E a opinião dela nada me interessa.
- A tua tia é velha, mesquinha e tem má índole. Devia ter sido ela a partir em vez do meu Edward.
- Lizzie, ouve-te - pediu Darcy - Essa não és tu. Tu não és assim. És alegre, gentil e dócil.
- Era, meu querido - corrigiu ela, suavemente, acariciando-lhe a face com a mão - A minha alegria foi-se juntamente com Edward.
- Gostei tanto de te ver hoje à tarde quando conheceste Anne Elliot - confessou pesaroso - Por momentos, vi novamente a minha querida Elizabeth. Revi a sua alegria, espontaneidade e boa disposição. Volta! Tens de voltar para mim. A minha vida sem ti não tem valor, Lizzie! Por favor!
- Mas eu estou aqui, Fitzwilliam - repetiu ela.
- O teu corpo está aqui. É diferente. Tu estás num outro lugar. Distante, sombrio e muito longe de mim. Não vou conseguir suportar isso por muito mais tempo.
- Bom Deus! - exclamou ela, com um riso a aflorar-lhe os lábios - Não estás a pensar devolver-me a Longbourn, pois não? A minha mãe ficaria delirante se tivesse de se dedicar outra vez à caça de maridos adequados.
Os olhos de Darcy sorriram e Lizzie viu-lhe lágrimas que ameaçavam correr.
- Essa é a minha Lizzie - disse beijando-lhe a rosto - A Lizzie que eu conheci e amo. Brincalhona e espirituosa. Não vás embora para esse teu mundo - suplicou - Fica comigo.