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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Um olhar sobre o Parque de Mansfield

Eu não conhecia esta obra, até vocês falarem dela. Esta é uma, senão o trabalho menos conhecido da Jane Austen, não percebo muito bem porquê. Comparando com a “Persuasão”, este romance está muito mais completo e explora de forma intensa cada personagem. Enfim, poderíamos aqui discutir a importância, valor, complexidade e qualidade deste livro face à restante obra, que na minha opinião não se fica nada atrás, porém o objectivo é outro.

 

Em primeiro lugar pretendo dar-vos a conhecer a aquisição e leitura do Parque de Mansfield… uma aventura! Para arranjar o livro demorei bastante tempo, visto que está esgotado e não há previsão de reedição. Teve de ser pela internet, num site de leilões, esperando pacientemente pelo fim do negócio. Mas quando finalmente chegou, foi uma alegria! O enredo é aliciante, o que fez com que o tivesse lido em pouco mais de uma semana, intercalando trabalho (muito!), vida familiar e pequenos (muito pequenos) tempos de leitura. No entanto, tive a sorte de conseguir uma tarde livre e nem pensei duas vezes, foi uma maratona de leitura desde as duas da tarde até às oito da noite! O livro foi avidamente “devorado”, como podem perceber.

 

Em segundo lugar, alguns olhares sobre o romance.

Uma das coisas que mais apreciei foi a crítica realizada à noção de “caridade”: uma acção realizada para bem parecer em sociedade, mais do que para o fim a quem se destinam as acções. A família Bertram neste contexto é um paradoxo de bondade e cinismo, que se vai intercalando ao longo do enredo, embora no final se descubra e se cultive tal virtude, à custa de uma aprendizagem sofrida.

E Fanny Price, que heroína tão apagada! No início perguntava-me como e que Jane poderia ter criado uma protagonista tão atípica. Quantas vezes não nos dá vontade de “sacudir” a sua aparente inércia? Muitas de certo. No entanto o final desta personagem ensina-nos que a perseverança, a seriedade e a defesa dos valores do bem e da verdade, mais tarde ou mais cedo, gerarão felicidade.

 

Das personagens masculinas: Edmund é um ingénuo, que apenas vê em Mary o que lhe apraz, ou seja, a beleza; e Henry é o mais inconstante dos homens, um verdadeiro perigo, do qual não se tem a certeza se é vítima pela ausência de uma boa guia (seria Fanny a sua salvação?), ou se apenas arca com as consequências da sua conduta consciente; Mr. Rushworth, uma pobre alma dividida entre uma mãe possessiva e uma mulher que não o ama, quiçá uma vítima como Henry, por falta de alguém que o compreenda e guie; Sir Thomas, o temido patriarca que têm inteligência para aprender com os seus erros; Tom, o filho que (talvez) se tenha de facto reabilitado.

 

As personagens femininas: Mrs.Norris, a execrável tia, a dominadora que descarrega nos mais próximos as próprias frustrações; Lady Bertram, a futilidade em pessoa, com carácter demasiado maleável, mas que parece ter bons sentimentos; as filhas Bertram, uma espécie de Lydia e Kitty de “Orgulho e Preconceito”, mas com desfechos trágicos; Mary Crawford, o egoísmo em pessoa, capaz de sacrificar a sua felicidade em prol do dinheiro; Susan Price, um retrato da bondade e constância da irmã, mas com mais vivacidade (aparente).

 

Muito fica por dizer numa abordagem tão breve, todavia o que fica deste livro são muito bons momentos de leitura e de reflexão a partir de um retrato tão mordaz e inteligente da sociedade inglesa contemporânea de Austen.

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