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Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Explorando Tom Bertram #1

(Tom Bertram - Christopher Villiers ; Mary Crawford - Jackie Smith-Wood ; Edmund Bertram - Nicholas Farrell; VERSÃO 1983)


 

"Ainda a rapariga não tinha chegado e já pensava num bom casamento para ela: Tom Bertram. (...) O casamento era o seu fim, desde que pudesse casar bem. Vira uma vez o Sr. Bertram na cidade, e não podia pôr-lhe objecções"

 

Lembramo-nos claramente, se não for pelo livro, pelo menos pelas adaptações que, quando os Crawford nos são apresentados, está "destinado" a que Henry fique com Julia Bertram e Mary com Tom Bertram. Porém, a história confude todos os pressupostos e chegamos a um final que todas conhecemos ou iremos conhecer!

 

"Ela [Mary Crawford] confessava que os dois irmãos Bertrams eram rapazes muito simpáticos (...) Tinham boas maneiras, sobretudo o mais velho. Ele estivera já muitas vezes em Londres, e era mais vivo e galanteador que Edmund. (...) Realmente, Tom Bertram agradava-lhe muito. Era um daqueles rapazes de que toda a gente gosta. Tinha maneiras finas, sempre boa disposição, e era muito conversador; tornava-se mais simpático do que os outros com qualidades mais recomendáveis; e a herança do Parque de Mansfield e o título de barão não prejudicavam nada."

 

Nas adaptações da obra não é dado grande enfoque à relação entre Tom Bertram e Mary Crawford, passam rapidamente para a dupla Mary/Edmund. Mas isso não se passa no livro. Inicialmente, Mary está convicta de que irá gostar mais de Tom Bertram, por ser este o indicado pela irmã - Mrs. Grant - e por ser ele o herdeiro. Os seus planos saem frustrados, Tom Bertram, embora agradável, não mostra interesse nela, vive egoisticamente para seu próprio prazer e não passa disso, de uma companhia simpática e agradável de quem, ao fim de contas, não se deve esperar nada.

 

"e no fim de Agosto chegou ele próprio [Tom Bertram], para se divertir, ser gentil e galante quando a ocasião o proporcionava ou Maria Crawford o exigia. Falou das corridas de cavalos em Weymouth, das reuniões e dos amigos, coisas que ela teria ouvido com algum interesse seis semanas antes, e agora apenas lhe serviam para , por comparação, marcar a sua preferência por Edmund (...) A sua ausência tão prolongada de Mansfield, sem outro objectivo que não fosse o de divertir-se e fazer o que queria, mostrou-lhe que ele não lhe ligava importância"

 

Não sei se Tom Bertram alguma vez teve consciência da intenção de Mary Crawford nas poucas cenas iniciais do livro em que essa porta está aberta. Acredito que não. Ele parece demasiado desprendido, até da Paixão. É certo que Tom não se apaixona por Mary (tão disposta a isso) por necessitar tanto de viver para seu bel-prazer e porque, tal como Narciso, vive apaixonado por si mesmo.

 

Todavia, sobe um degrau na minha consideração porque, ao contrário do irmão (tão íntegro e sensato) não se deixa influenciar por uma cara bonita - o único, ou pelo menos o mais importante atractivo em Mary, que leva Edmund a apaixonar-se, por muito que ele procure, incongruentemente, justificar a sua paixão por ela com outros predicados e que Fanny sabe tão inteligentemente dilacerar embora nunca aponte um dedo ao primo.

 

Para concluir, gosto de acreditar que Tom teve o seu final feliz. Se algum dia escrevesse um livro baseado na obra de Jane Austen, seria certamente sobre Tom Bertram, é um personagem pelo qual tenho uma forte empatia. Embora no início tudo indique uma versão mais elaborada de John Willoughby, no final, regenera-se e acorda para a realidade. Chamem-me romântica, mas acredito que Tom, naquelas páginas em branco que Jane Austen não escreveu, encontrou o amor da sua vida.

 

 

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