Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Jane Austen Portugal

O Blogue de Portugal dedicado à Escritora

Persuasão: Mary e Charles Musgrove

Mary nasce a 20 de Novembro de 1791 e é a filha mais nova de Sir Walter Elliot, de Kellynch-Hall. Em Dezembro de 1810 casa com Charles, filho herdeiro de Charles Musgrove, Esq., de Uppercross, no Condado de Somerset. Para Sir Walter Elliot, seu pai, Mary tinha uma beleza vulgar, pelo que, atendendo aos cânones de avaliação do cavalheiro, não era figura de grande importância.

 

Mary é a eterna criança mimada e caprichosa da família. Está constantemente a chamar a atenção sobre si, fazendo-se doente e dando grande importãncia aos seus achaques, não sabendo avaliar quando é inconveniente e inoportuna. Jane Austen, descreve-a como tendo um espírito volátil - quando estava feliz tinha grande humor e bom feitio; quando estava indisposta desalentava por completo. Não sabia estar sozinha (...). Ao contrário de Anne, Mary herdou os maus genes dos Elliot, como seja a altivez, a arrogância, a sobranceria, o egoísmo, o orgulho, a superficialidade e a presunção. Para além disso, não é uma mulher inteligente e dada a conhecimentos. Com o casamento pouco evoluiu nesta matéria, embora Charles Musgrove seja o seu oposto.

 

São várias as situações em que Mary se revela no seu pior, seja no seu papel de mãe, de mulher, de irmã ou de amiga. Quando o seu filho mais velho sofre uma queda, é Anne quem resolve tudo e acode ao sobrinho. Mary é inacapaz de agir, mas reverte o episódio a seu favor, aproveitando-se da bondade da irmã. Era uma mãe pouco presente para os filhos, embora se gabasse do contrário.

 

Relativamente a Anne, mostra-se muitas vezes ciumenta e age com maldade nos reparos (sem sentido) que lhe faz. É incapaz de fazer uma avaliação correcta da irmã. Em Lyme, aquando do acidente de Louisa, os seus ciúmes levam-na a agir de forma impulsiva, não avaliando o mal que faz ao querer substituir a irmã. O resultado é a revelação da sua imcompetência para agir em qualquer situação que requeira calma e dedicação aos outros, sobrecarregando os anfitriões da casa.

 

No seu papel de mulher, encarna a mulher insegura, ciumenta e arrogante. Mary despreza a família do marido. Apesar de ser uma família rica e respeitável, ela considera-os inferiores à sua condição. Do seu ponto de vista, foi ela quem trouxe honra e bom nome para o seu casamento e consequentemente para os Musgrove. O facto de o marido gostar de passar muito tempo com a família, não é bem visto por Mary. Não obstante, está sempre pronta a acompanhar o marido, mesmo que a situação ou a altura não seja a mais conveniente para o marido ou para os filhos.

 

São muitas as situações em que Mary discorda de Charles. Este é um homem mais sensato e humilde, dando valor ao ser humano em detrimento dos bens materiais, pelo que aprova o casamento da sua irmã Henrietta com Charles Hayter (um primo de condição inferior, mas honesto), ao passo que Mary considera o casamento como um factor de rebaixamento que afectará a sua família.

 

Estou em crer que Charles se arrependeu deste casamento, pois houve alturas em que ele saía de casa para caçar, desporto de que gostava bastante, apenas porque já não conseguia ouvir a voz da sua mulher. Mary não foi a sua primeira escolha. Inicialmente foi a Anne que ele pediu em casamento. Depois de recusado, optou então por casar com Mary. No entanto, o seu apreço por Anne nunca ficou diminuido; pelo contrário, ao longo da estória são notórios o carinho e a admiração que Charles nutre por Anne. Se excluirmos a natureza de Mary, talvez possamos afirmar que este é factor detonador dos ciúmes e da insegurança de Mary. No seu íntimo esta sabe que jamais conseguirá igualar a irmã.

 

Charles Musgrove era um homem cortês e simpático e indubitavelmente superior à sua mulher em sensatez e temperamento; mas não possuía faculdades, nem dotes de conversa ou elegância. Mostra verdadeira preocupação e cuidado pelos demais, característica que se evidencia no acidente de Louisa, em Lyme. Charles Musgrove tem um verdadeiro carinho pelas irmãs, embora o demonstre muito à sua maneira.

 

É através dele que temos consciência, nesta obra, do desconforto causado pelo facto de às mulheres estar vedado o direito à sua parte na herança. Charles vive esta situação com algum peso, aquando do anúncio do casamento da sua irmã Henrietta. Acha-se privilegiado em relação às irmãs. É um homem que coloca as pessoas acima do conforto dos bens materiais. Em conversa com Anne confessa que as irmâs fazem um bom casamento e que o dinheiro é menos importante porque os seus futuros cunhados são bons homens; homens de respeito e afectuosos.

 

Charles e Mary Musgrove não podiam ser mais opostos tanto nos gostos e nos princípios, como na maneira de ser.

 

Comentar:

Mais

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.